“A Tragédia de Macbeth” é mais uma versão para o cinema da obra de William Shakespeare que retrata a ascensão e queda do ambicioso Macbeth, dos tempos de cavaleiro até se tornar rei da Escócia.
O filme está disponível na Apple TV+.
Uma versão sombria para uma história sombria
Sem o irmão Ethan ao seu lado pela primeira vez, Joel Coen abre mão do cômico para investir totalmente em algo que esteve sempre presente em sua filmografia, mas pouco falam: a tragédia.
O cineasta retorna então ao texto base para criar o seu próprio teatro sombrio, trazendo claras referências ao expressionismo alemão, sobretudo nos ângulos de câmera e no uso de luz e sombra.
E o cinema prova mais uma vez que é muito mais sobre o como se contar uma história do que sobre a história em si. Ou seja, é sobre a narrativa e não sobre a história.
Temos aqui então uma história para lá de conhecida, que já foi adaptada por grandes nomes como Akira Kurosawa e Orson Welles e teve mais uma boa versão há poucos anos, protagonizada por Michael Fassbender e dirigida por Justin Kurzel.
Joel então não estava em busca de criar uma história inovadora ou revelar para o mundo a versão definitiva de “Macbeth” nos cinemas. O roteirista e diretor está muito mais interessado em encenar aquela história sob a sua perspectiva dramática, desafiando-se, mas sem deixar de trazer a essência de seu cinema.
Afastamento acusatório
Mais do que o humor ácido ou o pessimismo, o cinema dos Coen sempre foi muito mais uma visão acusatória disfarçada de comédia. É como se eles colocassem aqueles personagens em um mundo criado por eles para que aquele mundo julgasse as atitudes dos personagens, enquanto os cineastas seriam como o Deus dessa articulação.
Em “A Tragédia de Macbeth” não é diferente, até porque a obra já vem meio pronta nesse sentido. “Macbeth” é uma obra universal e atemporal porque, apesar da distância temporal, fala sobre o ser humano, sua busca por poder e ambição que leva à loucura. Elementos que são um prato cheio para o cinema dos Coen, ainda que aqui só um deles esteja presente.
Joel descontrói a noção de realismo que impregna o cinema atual e nos transporta para cenários expressionistas. Junto ao preto e branco e à proporção de tela, vemos um protagonista aprisionado em seu próprio pecado, enlouquecendo pela própria culpa e ambição. Enquanto isso, o texto mais arcaico vem para reforçar ainda mais esse pesadelo no qual o protagonista se encontra.
Dessa forma, Joel nos afasta de seu protagonista, faz com que olhemos de fora para ele. E se algo nos aproxima daquele casal é justamente as atuações de Denzel Washington e Frances McDormand, que trazem alguma naturalidade para uma encenação que em nada busca o naturalismo. É nessa ambiguidade deliciosa e sombria que o diretor constrói, com êxito e personalidade, a sua versão de Macbeth.
Nota:
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Ficha Técnica:
Título original: The Tragedy of Macbeth
Data de lançamento: 14 de janeiro de 2021
Direção: Joel Coen
Elenco: Denzel Washington, Frances Mcdormand
Gêneros: Suspense, Drama
Nacionalidade: EUA