Durante um período de escassez, Maria e João saem de casa e partem para a floresta em busca de comida e sobrevivência. Então, encontram uma senhora, cujas intenções podem não ser tão inocentes quanto parecem.

Nova abordagem

Diferente dos recentes “O Grito” e “Dolittle”, “Maria e João: O Conto das Bruxas” não se trata de mais um remake incomodo e desnecessário. Assim como aconteceu ano passado com a oitava adaptação de “Adoráveis Mulheres”, “João e Maria” é um conto mundialmente famoso e importante, um dos mais conhecidos dos Irmãos Grimm. Então, é normal que esse seja reinventado de tempos em tempos sob novas óticas e abordagens para o cinema.

E, nesse sentido, a ideia de mergulhar de cabeça em um universo de terror soa bastante acertada, ao contrário da adaptação anterior, “João e Maria: Os Caçadores de Bruxa”, que caminhou para a ação com um filme que pouco tem da obra original. Entretanto, se a escolha do gênero aqui é boa, o longa tem dificuldade de saber qual subgênero do terror deseja abraçar. Ora o filme aposta em uma pegada de terror mais psicológico e independente (que alguns insistem em chamar de “pós-terror”, termo que já critiquei anteriormente aqui), ora apela para o terror mais tradicional.

Essa é mais uma daquelas obras que ficam parecendo dois filmes em um, e, como de costume, um funciona e o outro não. Mas o mais frustrante é que “Maria e João” demonstra um grande potencial até a metade do segundo ato, o que deixa o público na expectativa por uma boa resolução, só que aos poucos a direção de Oz Perkins começa a se perder e o filme vira um grande amontoado de ideias e estilos que não se conversam.

maria e joao 2020

E o mesmo vale para as questões visuais e sonoras que dita o terror que o longa aborda. Inicialmente, a obra trabalha bem o uso de cores e contrastes, o claro e o escuro, o azul e o laranja. São diversos os quadros que enchem os olhos com uma beleza estonteante. Enquanto isso, o trabalho sonoro minimalista usa a natureza e o som ambiente como uma forma eficiente de imersão.

Construção que não se justifica

Porém, ao passo que o filme caminha vai ficando mais claro que ele tem uma boa noção de construção, mas não sabe como resolver o que foi apresentado. Isso vale tanto para o desenvolvimento do roteiro quanto para a construção de terror. O suspense funciona até a entrada dos jovens na casa (que tem um belíssimo trabalho de design de produção por sinal). Entretanto, com eles dentro do abate da bruxa, o longa é ineficaz ao tentar construir cenas realmente aterrorizantes ou desconfortáveis. Dessa forma, acaba apelando para diversos momentos de sonho (recurso mais do que batido no gênero) e jump scares (artifício mais batido entre todos os gêneros cinematográficos).

É justamente nesse momento que o longa abandona a sua beleza visual e minimalista, trocada pelo CGI, e o terror independente se transforma em um horror mais óbvio e genérico. E tudo que o público havia investido na obra começa a se desfazer aos poucos.

Não descarto a possibilidade do filme ter sido rejeitado em exibições testes e, sem dinheiro para regravação (já que não tem orçamento tão alto), tenha recorrido a recursos mais baratos e remontagem. Isso fica claro com a narração em off que tenta costurar a história em momentos pontuais ou com cenas que são introduzidas aleatoriamente e logo descartadas. Um bom exemplo é a dos cogumelos que mais parece pertencer a um filme do Seth Rogen.

Então, “Maria e João” acaba entregando uma das experiências mais decepcionantes dos últimos meses. Principalmente por trazer boas ideias na abordagem e no visual, mas acabar se perdendo no meio do caminho. Ainda assim, fico curioso para ver o próximo longa dirigido por Perkins e o desenvolvimento de Sophia Lillis como atriz, já que ela tem bastante talento, só precisa amadurecer.

Nota: 5.5

Crítica em vídeo:

Assista abaixo à crítica em vídeo que eu fiz sobre o longa em meu canal, o 16mm.

Assista ao trailer:

Ficha Técnica:

Título original: Gretel & Hansel (Maria e João: O Conto das Bruxas)
Data de lançamento: 20 de fevereiro de 2020 (1h 30min)
Direção: Oz Perkins
Elenco: Sophia Lillis, Alice Krige, Sammy Leakey mais
Gêneros: Terror, Suspense
Nacionalidade: EUA