“Another Round” conta a história de quatro professores cansados de viverem suas rotinas e que decidem fazer um experimento. Eles tentarão beber diariamente o suficiente para manter o sangue com 0,05% de álcool, visando assim, tornarem-se mais ativos.
O filme fez parte da 44ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo e integrou o Festival de Cannes 2020.
Uma celebração da vida
Apesar de ter o alcoolismo como pano de fundo, “Another Round” está muito mais interessado em promover uma jornada de celebração da vida para os seus quatro personagens centrais. Dessa forma, a bebida surge muito mais como um ponto de partida para a realização de desejos do que como o problema maior de suas vidas.
Assim, Thomas Vintenberg (“A Caça”, “Festa de Família”) não julga os seus personagens, pelo contrário, ele valoriza a tentativa desses de rejeitarem uma rotina pacata em busca de realizações maiores. Claro que o cineasta também não incentiva o alcoolismo e mostra como o quarteto perde o controle e se destrói por causa disso. Mas a maior preocupação do cineasta acaba por ser mesmo essa relação entre o homem e a crise da meia-idade.
Apegando-se ao seu estilo desenvolvido a partir do Dogma 95, Vintenberg cria uma atmosfera tragicômica naturalista, inicialmente escondendo o seu protagonista por meio do contra-luz ou o apequenando dentro da sala de aula com seus “aterrorizantes” alunos. É só a partir do início do experimento que Martin, interpretado pelo sempre brilhante Mads Mikkelsen, passa a ser enquadrado em planos conjuntos e iluminados. É nesse momento também que sua amizade com os outros três professores se torna mais presente e relevante para a trajetória do protagonista.
Então, desinteressado em se aprofundar em temas sérios e já muitas vezes abordados no cinema, Vintenberg centra sua comédia na proximidade palpável desses personagens e principalmente em situações desconfortáveis, algo que ele já fez no excelente “Festa de Família”. Justamente por sabermos que aqueles personagens não estão fazendo algo aceitável para os dados contextos e a perda de controle do experimento se torna cada vez mais gritante, ficamos preocupados e tensos a cada nova situação que eles se encontram, desde a reunião com pais, passando pelas aulas até suas relações pessoais.
Só que graças à boa construção da relação entre eles e do pouco moralismo na direção de Vintenberg, somos capazes de torcer por esse protagonista e seus amigos, mesmo quando sabemos que eles estão entrando em um caminho sem volta. Dessa forma, cabe ao público decidir se vai ou não comprar a jornada deles até o final.
Por isso, o terceiro ato não funciona tão bem quanto os seus precursores. Abruptamente, Vintenberg pesa a mão no drama e rompe com a dinâmica tragicômica proposta até então. O longa se torna por alguns minutos mais soturno e subjetivo, tanto narrativamente quanto na composição de sua mise en scène. Felizmente, o diretor volta aos trilhos na sequência final, sendo a última cena uma das mais divertidas do longa, com a imperdível dança de Mikkelsen.
Então, ainda que imperfeito e muito menos socialmente relevante do que outras obras do cineasta dinamarquês, “Another Round” acaba sendo uma divertida aventura pela crise de meia-idade.
Nota: 8.0
Assista abaixo à crítica em vídeo que eu fiz do filme em meu canal, o 16mm.
Ficha Técnica:
Título original: Druk
Data de lançamento: Estava disponível online na Mostra de São Paulo
Direção: Thomas Vintenberg
Elenco: Mads Mikkelsen, Thomas Bo Larsen, Magnus Millang
Gêneros: Comédia, drama
Nacionalidade: Dinamarca