“Babenco – Alguém Tem Que Ouvir o Coração e Dizer: Parou” é um documentário pessoal sobre os últimos anos de vida e a carreira do diretor argentino (naturalizado brasileiro) Héctor Babenco, dirigido por sua esposa, a atriz e diretora Bárbara Paz.
O filme, que venceu o prêmio de melhor documentário no Festival de Veneza 2019 e fez parte da 43ª Mostra de Internacional de Cinema de São Paulo, é a indicação brasileira para buscar uma vaga a Melhor Filme Internacional no Oscar 2021.
Pessoal e tocante
Mais do que apenas um documentário de homenagem convencional, “Babenco – Alguém Tem Que Ouvir o Coração e Dizer: Parou” é todo concebido sob a ótica de lembranças que jamais vão voltar, mas que estão registradas para sempre na memória. Dessa forma, Bárbara Paz, casada com Héctor Babenco até os últimos dias de vida do cineasta, opta por fazer esse retrato em preto e branco e sem necessariamente optar por uma história contada de forma cronológica. De certa forma, o primeiro plano da obra consegue trazer todo o significado dela. A janela aberta nada mais é do que aquilo que veremos do diretor, o seu íntimo e sua obra se abrindo para nós.
Assim, além do preto e branco e da não-cronologia, Bárbara, que além de diretora é montadora, roterista e diretora de fotografia do longa, também traça um paralelo entre os últimos anos de vida de Babenco e suas produções cinematográficas, o que vai desde a ideia por trás dos seus filmes, passando pelas gravações, até as obras prontas. Entretanto, tal retrato é feito sob a lente de memórias, mais do que informar sobre a carreira do cineasta, a diretora pretende dar força para aquilo que ela acredita que precisa ser lembrado de alguém que ela tanto amou. É uma daquelas obras que consegue tocar o espectador justamente porque sentimos a presença e a paixão de sua diretora por trás da câmera.
E seguindo fielmente a proposta irrestrita de memórias em movimento (não é por acaso que a diretora foca tanto em fotografias), Bárbara utiliza uma série de recursos estilísticos que tornam a obra ainda mais interessante e pessoal. Isso aparece principalmente na razão de aspecto, que muda constantemente ao variar entre aquilo que é filmado pela cineasta e as imagens de arquivo, e na dissociação entre som e imagem. Esta segunda permanece durante toda a obra e cria uma importância tanto para o sonoro quanto para o visual, entretanto áudio e imagem não estão sincronizados, muitas vezes o som não tem qualquer relação com aquilo que estamos vendo, o que reforça ainda mais a ideia de que a narrativa se passa dentro da mente do retratado, sem uma coerência convencional.
Então, ao colocar o seu sentimento e seu estilo quase experimental na obra, “Babenco – Alguém Tem Que Ouvir o Coração e Dizer: Parou” acaba por ser uma tocante homenagem sobre uma mente brilhante que entregou sua vida ao cinema, ao mesmo tempo que é um exercício de estilo que nunca se torna aleatório, já que consegue inserir todos os seus elementos à proposta central. Agora é torcer para o documentário conseguir distribuição nos EUA para ter uma chance de lutar pela vaga de Melhor Filme Internacional no próximo Oscar.
Nota: 9.0
Assista abaixo à crítica em vídeo que eu fiz do filme em meu canal, o 16mm.
Assista ao trailer:
Ficha Técnica:
Título original: Babenco – Alguém Tem Que Ouvir o Coração e Dizer: Parou
Data de lançamento: Exibido na Mostra de SP de 2019
Direção: Bárbara Paz
Elenco: Héctor Babenco, Bárbara Paz, Willem Dafoe
Gêneros: Documentário
Nacionalidade: Brasil