“Rosa e Momo” conta a história de uma sobrevivente do nazismo que começa a cuidar de um órfão. Aos poucos, eles começam a se aproximar.
O filme está disponível na Netflix.
Típico melodrama italiano
Ao mesmo tempo que “Rosa e Momo” herda características do típico melodrama italiano, o longa também se apoia sobre uma visão hollywoodiana clássica da estrela como elemento mais importante da obra. Ao mesmo tempo, a trama mais parece a de um filme do neorrealismo, enquanto o visual volta a remeter o cinema estadunidense, principalmente os blockbusters atuais que apostam em uma hiperestilização, muitas vezes sem um grande propósito.
Ao dizer tudo isso, fica a impressão que “Rosa e Momo” é uma obra sem originalidade e repleta de elementos que não se conversam. Até certo ponto, isso é verdade. A direção de Edoardo Ponti (filho de Sophia Loren) demonstra uma grande inabilidade ao propor um estilo que converse com a narrativa, o que cria um ruído entre a história, o visual e o sonoro. Enquanto somos apresentados a um drama social sobre imigração, trauma, preconceito e impossibilidade de se adaptar por completo em uma sociedade, a obra rejeita a dureza temática em prol da estilização pela estilização.
Com isso, vemos uma série de luzes neon e ouvimos várias músicas mais pops, em uma Itália artificial. Fica claro que tais recursos só aparecem para trazer um lado cool para o filme, e, que no final, por não terem um propósito bem definido, acabam mais atrapalhando do que ajudando a criação dramática e a relação dos personagens com aquele ambiente.
Porém, a verdade é que tudo isso se torna secundário, já que “Rosa e Momo” está muito mais interessado em focalizar em sua estrela e em seu melodrama. Não era para menos, pois Sophia Loren estava há anos longe das telas e só voltou para o papel para se reunir com seu filho. Nada mais justo do que ela ditar o rumo do show.
Porém, isso se torna ainda mais interessante com a metalinguagem criada dentro da própria carreira da artista. Mais do que isso, o longa cria uma relação direta com o culto à estrela, empregado por décadas em Hollywood, mas subvertendo um elemento chave: a idade da atriz principal. Se na Hollywood clássica, as atrizes tinham sempre que serem jovens, Loren mostra como alguém com mais de 80 anos é capaz de brilhar e dominar a câmera. É claro que tal ideia não é completamente nova, vários filmes já tiveram estrelas no final de carreira como protagonistas. Entretanto, “Rosa e Momo” o faz sem necessariamente criar uma metalinguagem direta com o cinema, mas, sim, com a própria artista.
E, é graças a Loren e sua relação com Momo, em uma boa primeira atuação de Ibrahima Gueye, que o melodrama do longa funciona. Principalmente quando abandona personagens secundários mais estereotipados e uma visão mais maniqueísta, para focar na solidão de cada um deles e no senso de união criada a partir disso. São nesses momentos que “Rosa e Momo” é capaz de abandonar a sua trama genérica e emocionar pela relação humana entre suas personagens.
Nota: 6.5
Assista abaixo à crítica em vídeo que eu fiz do filme em meu canal, o 16mm.
Assista ao trailer:
Ficha Técnica:
Título original: La vita davanti a sé
Data de lançamento: 13 de novembro de 2020
Direção: Edoardo Ponti
Elenco: Sophia Loren, Ibrahima Gueye
Gêneros: Melodrama, drama
Nacionalidade: EUA