“Collective” conta a história da investigação que cercou e tentou esclarecer os problemas do sistema de saúde da Romênia, após dezenas de pessoas morrerem por infecção, semanas depois do incêndio na boate “Colectiv”.
O filme deve chegar no Brasil para aluguel em abril e foi indicado ao Oscar 2021 nas categorias de Melhor Filme Internacional e Melhor Documentário.
Uma Aula de jornalismo investigativo
O documentário por toda a sua história se relacionou muito com o jornalismo. Por se tratar do gênero cinematográfico mais próximo do real do que do ficcional, muito se discute no meio acadêmico sobre as muitas semelhanças e as poucas diferenças entre a grande reportagem (jornalismo) e o documentário (cinema). Não à toa, o filme documental investigativo é muito comum, utilizando a linguagem cinematográfica e os métodos de apuração jornalístico.
E é justamente nessa lógica que “Collective” se situa, uma daquelas obras do cinema que provavelmente serão estudadas nas faculdades de jornalismo daqui para frente. Não à toa, o personagem principal da primeira metade da obra é um jornalista apurando e questionando autoridades do governo sobre um escândalo do sistema de saúde da Romênia que tirou a vida de centenas de pessoas.
Dessa forma, a direção de Alexander Nanau sabiamente nos transporta para perto dessa equipe de jornalistas, em uma luta contra o sistema e pela verdade, reduzindo assim o foco no incêndio da boate Colectiv e se preocupando muito mais com aquelas mortes que ocorreram por negligência do estado e deveriam ter sido evitadas, muitas delas de pessoas com queimaduras leves que nem sequer corriam risco de vida.
Trata-se de uma aventura fascinante pelo mundo da investigação, da descoberta, da luta contra a desinformação. Como vemos no Brasil e no mundo atual com a pandemia do Coronavírus, o jornalista Catalin Tolontan é constantemente difamado e acusado por “levar o pânico a população”. A revolta toma conta do espectador, algo que só ocorre pela habilidade de Nanau de nos aproximar do jornalista e entender sua honestidade. Por mais distante que possa parecer, o caso se conecta imediatamente com o público.
O mesmo vai ocorrer na segunda metade da obra, quando somos levados para perto de outro personagem, o novo ministro da saúde, e descobrimos ao lado dele como a sujeira do sistema é muito maior do que parecia. Essa mudança de ponto de vista, apesar de menos interessante e mais burocrática do que a primeira parte, segue mantendo o público engajado pelo caráter do personagem apresentado e a busca pela verdade, agora vinda de dentro, de alguém que teoricamente teria o poder de fazer algo, mas que na prática não é bem assim.
Então, “Collective” surge como a obra mais angustiante do Oscar 2021, um documentário que entende o poder de um bom jornalismo e é capaz de presenciar momentos indescritíveis, seja o que é vivido pelo jornalista, pelo ministro ou por uma das vítimas da tragédia do sistema de saúde romeno. Mais do que um documentário importante para entendermos os tempos em que vivemos, a obra se torna imediatamente atemporal e uma aula para os jornalistas de plantão (como é o meu caso).
Nota: 8.0
Assista ao trailer:
Ficha Técnica:
Título original: Colectiv
Data de lançamento: Sem previsão de estreia
Direção: Alexander Nanau
Elenco: Catalin Tolontan
Gêneros: Documentário
Nacionalidade: Romênia