“Emma” conta a história de uma jovem no século XIX que se recusa a casar. Ao invés disso, ela prefere interferir nos relacionamentos de outras pessoas.
Sátira de época
Inspirado de um livro de Jane Austin, “Emma.” é mais uma boa adaptação cinematográfica de uma obra da autora. Apesar de bastante diferente do material original, o longa de Autumn De Wilde consegue captar a essência da personagem e toda a desconstrução dos costumes da época que é uma marca na carreira de Austin. Entretanto, o longa não é apenas uma crítica tradicional a valores ultrapassados (que em boa parte permanecem até os dias de hoje), Wilde e a roteirista Eleanor Catton optam também por ridicularizar aquela sociedade.
Então, o filme se desvincula de outras adaptações cinematográficas da autora, como os ótimos “Orgulho e Preconceito” e “Razão e Sensibilidade”, e se aproxima mais do recente “A Favorita”. Porém, se a obra de Yorgos Lanthimos propunha uma ridicularização narrativa e em alguns personagens pontuais, “Emma.” não tem medo de abraçar o absurdo em todo os seu universo diegético, desde os belos e exagerados vestidos até as atuações, cenários, trilha sonora e efeitos sonoros (que em alguns momentos lembram desenho animado).
Todavia, o longa também é eficiente ao construir o romance central, ainda que nem sempre os dramas pessoais funcionem. Muito disso passa pela boa química entre Anya Taylor-Joy e Johnny Flynn e pelo roteiro de Catton, que cria a relação nas entrelinhas apostando na sugestão, enquanto Wilde faz o mesmo ao ressaltar apenas pequenos gestos ou olhares.
Porém o longa só funciona mesmo por conta de Taylor-Joy. Desde o primeiro plano, que traz a protagonista acordando, nós somos despertados juntos com ela e carregados por seu olhar cínico para dentro desse universo. A atriz cria uma personagem imponente e decida (ou pelo menos é o que parece à primeira vista) que se diverte ao usar as pessoas, mas também sente um enorme desconforto quando submetida às convenções da época. Reparem na dificuldade que Emma tem em fazer contato visual nessas situações, é quase como uma forma dela se transportar para fora daquele local.
Provavelmente “Emma.” não será tão marcante quando as outras duas adaptações de Austin que citei e nem mesmo é tão intrigante quanto “A Favorita”, mas sem dúvida o longa consegue encontrar certa originalidade em seu universo e é bem mais divertido do que eu esperava.
Nota: 8.0
Assista ao trailer:
Ficha Técnica:
Título original: Emma.
Data de lançamento: 14 de fevereiro de 2020 (1h 58min)
Direção: Autumn de Wilde
Elenco: Anya Taylor-Joy, Johnny Flynn, Mia Goth mais
Gêneros: Filme de época, Comédia
Nacionalidade: Reino Unido