Era Uma Vez Em Hollywood
“Era Uma Vez Em Hollywood” retrata um mundo alternativo que brinca com os acontecimentos do ano de 1969, na cidade de Los Angeles. O filme segue o ator de seriados de faroeste Rick Dalton e seu dublê Cliff Booth, e une os personagens ficcionais aos acontecimentos reais.
Um novo filme.
Em seu nono filme, Quentin Tarantino chega com a sua obra mais pessoal e que possivelmente seja a que menos agradará ao público. Apesar de ser vendido como um filme grandioso e com um elenco estelar, “Era Uma Vez Em Hollywood” conta uma história muito mais contida. E, nesse sentido, a falta de ação e sangue em comparação as suas obras anteriores e o pouco tempo de tela para grandes nomes como Kurt Russel e Al Pacino, além dos ótimos Michael Madsen e Tim Roth (que foi cortado do material final), provavelmente decepcionará parte do público.
Porém, apesar de entregar um produto diferente do que os trailers sugeriam, o longa acerta ao encontrar o seu tom. Trata-se de um dos filmes mais engraçados do diretor. Outro acerto fica por conta da ambientação. O conhecimento de Tarantino sobre a época retratada é notório e, dessa forma, ele consegue transportar o público para o final da década de 1960. Carros, cinemas, casas, avenidas, jaquetas, vestidos, sets de filmagem ou até mesmo os objetos mais banais foram minuciosamente escolhidos. Sem dúvida o longa deve aparecer nas categorias de “Figurino” e “Design de Produção” no próximo Oscar.
A velha e a nova Hollywood
Mas o melhor do filme está na forma como ele brinca com a ideia de misturar ficção e realidade. Isso aparece em diferentes escalas. A mais ampla se refere ao próprio longa em si, que usa acontecimentos reais e os coloca dentro de uma realidade alternativa, quase que como um conto de fadas (o “Era Uma Vez” do título está longe de ser aleatório), algo semelhante ao que ele já fez em “Bastardos Inglórios” (2009). Já a segunda escala traz a ideia de um filme dentro de um filme, pois grande parte da obra se foca nas filmagens que Rick Dalton (Leonardo DiCaprio) está participando. É legal notar como estas apresentam também um propósito narrativo e ajudam a moldar o personagem, em mais uma excelente atuação para a carreira de DiCaprio.
Vale destacar também como a relação entre ficção e realidade dentro do universo do longa estão intimamente interligadas. Cliff Booth (Brad Pitt) é o dublê de Rick nos filmes, ao mesmo tempo em que auxilia o amigo fora das filmagens a realizar tarefas que este não é capaz de fazer, como dirigir ou arrumar a antena do telhado. E essa parceria funciona ainda melhor porque DiCaprio e Pitt estão em completa sintonia. O trabalho corporal e a mudança no sotaque do segundo ajudam para uma precisa construção de personagem.
E, claro, não há como deixar de notar a paixão colocada por Tarantino no longa. As referências são inúmeras e são uma diversão à parte para os cinéfilos que conhecem e amam o cinema da época. E a grande maioria não está la por puro acaso, elas apresentam um acréscimo narrativo ou servem como uma forma de tornar aquele universo criado ainda mais crível. As referências são tantas que Tarantino passou até a se autorreferenciar.
Bom, mas nem tanto.
Só que, apesar dos diversos acertos, essa obra não chega ao nível das melhores do diretor, como “Pulp Fiction” (1994) e “Cães de Aluguel” (1992), e nem mesmo a “Bastardos Inglórios”, “Django Livre” (2012) e “Kill Bill” (2003). “Era Uma Vez Em Hollywood” está mais próximo de “Os Oito Odiados” (2015), até mesmo pela estrutura do roteiro que se segura a todo instante para uma conclusão grandiosa. Apesar do último ato ser a melhor parte do filme, há um sério problema de ritmo por parte da montagem até chegar nesse clímax. Em muitos momentos o filme se estende mais do que deveria ou não consegue trazer a tensão necessária. É uma pena que o grande pico de tensão do segundo ato não se concretize da melhor forma, já que a cena que parecia relevante e que vai ganhando força ao passo que o diretor a prolonga, em sua conclusão acaba soando quase como desnecessária.
Mas sem dúvida o grande equívoco do filme está na personagem de Sharon Tate (Margot Robbie). Nem a ótima atuação da excelente Margot Robbie é capaz de salvar a personagem, que é completamente esnobada pelo roteiro. Não é exagero dizer que se a personagem não estivesse no filme, não faria falta. Ela serve apenas como uma ponte para o diretor e roteirista conectar o ficcional ao evento mais famoso do ano de 1969. E é por meio dela que o roteiro apresenta rapidamente figuras como o Diretor Roman Polanski e o ator Steve McQueen, o que pouco agrega narrativamente para a obra.
Então, por conter um controle absoluto da obra e uma ideia clara da história que quer contar, mais uma vez Tarantino acerta, com um filme divertido e impecável tecnicamente, ainda que imperfeito narrativamente. São nove filmes (10 se considerarmos Kill Bill como dois) e o diretor segue sem errar. Ah, e vale lembar que há cena pós créditos.
Nota: 8.0
Assista ao Trailer:
Ficha Técnica:
Título original: Once Upon A Time…in Hollywood (Era Uma Vez Em Hollywood)
Data de lançamento: 15 de agosto de 2019 (2h 42min)
Direção: Quentin Tarantino
Elenco: Leonardo DiCaprio, Brad Pitt, Margot Robbie mais
Gêneros: Drama, Comédia
Nacionalidade: EUA