“Eternos” acompanha seres grandiosos que vivem entre nós há milhares de anos, mas não podem interferir no desenvolvimento da humanidade. Com isso, só resta a eles vencer seus rivais deviantes.
O filme está disponível nos cinemas.
Diferente mesmo?
“Eternos” promete ser o filme mais diferente da Marvel, e mostra lampejos de originalidade graças a escolhas da ótima Chloe Zhao, mas, no fim, fica claro que o estúdio ainda não está pronto para grandes mudanças.
Longe de ser esse desastre todo que muita gente vem apontando, em grande parte usando o câncer Rotten Tomatoes como justificativa, o novo filme Zhao se apoia em um tom mais austero para tratar de deuses que vivem entre nós. Todas as escolhas sonoras e narrativas vão criar não um clima que aproxime exatamente o espectador, mas que enalteça a grandeza daqueles seres superiores.
Em parte, isso acaba jogando contra a própria proposta da história, já que trata-se de um filme muito mais preocupado com os personagens do que necessariamente com os rumos do universo ou as grandes cenas de ação, como acontece na maioria dos filmes do UCM. Entretanto, o excesso de flares e cenas mais escuras repletas de sombras não são o suficiente para realmente criar um vínculo entre o público e esses novos personagens. Talvez a exceção seja o Kruig, interpretado por Barry Keoghan, mas muito mais por conta do dilema do personagem do que necessariamente por escolhas da direção.
No geral, o longa pelo menos acerta ao trazer um elenco repleto de diversidade, e integra todas essas diferenças ao criar personagens super distintos entre si. Vale destaque também para Phastos, de Brian Tyree Henry, que mostra uma Disney finalmente se permitindo ao que vinha ensaiando há anos, mas tinha medo de concretizar. Porém a exploração desses personagens não vai muito além da primeira camada.
Longe de ser culpa de Zhao, o grande problema de “Eternos” está justamente na escolha de uma diretor com estilo definido, mas sem permitir que ela imponha sua visão por completo. Fica claro que a Marvel não está pronta (será que algum dia estará?) para se abrir ao novo.
Então, se por um lado Zhao, que sempre construiu filmes mais íntimos e quase documentais, tenta apostar no emocional dos personagens e no pequeno, o estúdio parece sempre tentar puxar o filme para o outro lado, para uma grandiosidade, batalhas repletas de CGI e, principalmente, um humor que soa sempre deslocado. É como se a Marvel tivesse mais preocupada em manter sua formulazinha de sucesso comercial do que realmente “ouvir” o que o filme pede.
No fim, a obra carece não só de ritmo, em parte por conta do estilo de Zhao, em parte por conta de uma montagem hiperexplicativa que vai e volta no tempo e repete o dilema central do grupo a exaustão até que esse perca força, mas principalmente de uma identidade. Parece uma cabo de guerra, enquanto a diretora puxa a corda de um lado, a Marvel puxa do outro.
Com isso, o drama e os temas perdem força em meio a piadas e cenas genéricas de ação que entram quase como protocolo. Por outro lado, a ação e a megalomania da Marvel nunca é capaz de dar ritmo ou vida ao filme. Talvez fosse uma ideia melhor abraçar a identidade de Jack Kirby e todas suas cores e ideias malucas dos quadrinhos. Mas, mais uma vez, a Marvel não parece querer sair da zona de conforto enquanto tiver retorno nas bilheterias. Quem perde é o espectador cansado da mesmice e com um pouco mais de senso crítico.
Nota:
Assista a minha crítica em vídeo:
Assista ao trailer:
Ficha Técnica:
Título original: Eternals
Data de lançamento: 4 de novembro de 2021
Direção: Chloe Zhao
Elenco: Gemma Chan, Richard Madden, Angelina Jolie, Selma Hayek, Barry Keoghan, Kumail Nanjiani
Gêneros: Super-herói
Nacionalidade: EUA