“Freaky – No Corpo de um Assassino” acompanha uma jovem que, após ser ferida por um serial killer, troca de corpo com ele. Agora, eles terão um dia para desfazer a magia.
O filme está disponível nos cinemas.
Unindo subgenêros
Como todo gênero que tem convenções repetidas à exaustão até que se tornem clichês, o slasher, talvez o subgênero de terror que mais se repete, encontrou já na década de 1990 duas opções para seguir existindo: abandonar alguns clichês e se reinventar ou reconhecer as próprias convenções para satirizá-las ou subvertê-las. É claro que no meio disso tiveram longas pouco inspirados que seguiram repetindo o que já vinha sendo feito, sobretudo em sequências ou reboots de franquias já consagradas. Entretanto, foram aqueles que souberam reconhecer a saturação dos clichês que conseguiram se diferenciar. Muito disso se deve ao primeiro “Pânico”, de 1996. Dirigido por Wes Craven (grande conhecedor do subgênero e criador da franquia “A Hora do Pesadelo”), o filme acompanhava jovens fanáticos pelos assassinos do cinema e que sabiam exatamente como agir se um serial killer aparecesse.
Mais de 20 anos depois e quando a própria franquia “Pânico” já se saturava, surge um outro nome para trazer novas ideias ao slasher: Christopher B. Landon. E o mais curioso é que essa renovação parte justamente da combinação de elementos recorrentes, tanto no terror quanto em outros gêneros. Foi justamente ao misturar o efeito “Feitiço no Tempo” ao slasher convencional, ao mesmo tempo que ironizava os clichês dos dois subgêneros, que Landon criou o divertido “A Morte Te Dá Parabéns”.
Após uma sequência não tão inspirada deste, o cineasta retorna com o inteligente e autoconsciente “Freaky – No Corpo de um Assassino”. Aqui, o “Feitiço no Tempo” é substituído por outra escolha narrativa super repetida, a troca de corpo. Porém, ao combiná-la com o slasher e substituir a vítima pelo assassino, o resultado é bastante satisfatório, funcionando como comédia e terror, surgindo como mais um interessante exemplar do terrir.
Consciência dos clichês
Dessa forma, o longa vai abraçar os clichês dos subgêneros e satirizá-los durante a maior parte da projeção, mas também homenageá-los em alguns momentos (principalmente no físico do assassino e nas armas utilizadas por ele, que remetem a filmes famosos do gênero como “Halloween”, “O Massacre da Serra Elétrica” e o fraco “O Que Vocês Fizeram no Verão Passado”). Isso aparece desde a primeira cena, quando um grupos de jovens em uma mansão isolada falam sobre um serial killer, antes do próprio assassino aparecer para matá-los. É nessa sequência também que o longa apresenta o item mágico causador da troca de corpos, mas nunca se aprofunda exatamente em sua mitologia, deixando para o público especular sobre seu funcionamento. Pode ser até que ele guarde essas explicações para uma possível sequência, como fez em “A Morte Te Dá Parabéns 2”.
Após o prólogo, somos apresentados aos personagens principais da história: a protagonista que sofre bullying na escola, os amigos dela, a mãe viúva que tem problemas com bebidas e a irmã mais velha, além é claro do interesse amoroso e dos que fazem bullying. Entretanto, esses personagens para lá de convencionais são reconhecidos como tais pelo filme e às vezes por eles mesmos, como vemos na cena em que o amigo gay e amiga negra reconhecem que por serem quem são correm mais riscos com um serial killer à solta (o que geralmente acontece em filmes de terror).
Além disso, o filme evolui após a troca de corpo. Tal ponto de virada permite que o longa crie situações inteligentes e engraçadas ao colocar um serial killer no corpo de uma garota do ensino médio e vice-versa. Ao mesmo tempo que o assassino perde a sua força bruta, ele é obrigado a se adaptar e usar sua “invisibilidade” para fazer suas vítimas. Enquanto isso, a protagonista ganha fisicamente, mas precisa se esconder para não ser pega, ao mesmo tempo que tenta frear o assassino. Óbvio que o filme vai adicionar também um limite temporal para a mudança ser desfeita, tornando ainda mais difícil a vida da personagem principal. Só que, mais do que criar boas situações cômicas e tensas, tal troca exige que os dois atores principais, Kathryn Newton e Vince Vaughn, tenham que dar vida a essa mudança, o que eles o fazem com perfeição, exagerando na medida certa e criando novas personalidades para os seus mesmo corpos.
É bem verdade que em alguns momentos “Freaky” utiliza os clichês apenas como muletas narrativas, por exemplo obrigando os personagens a tomar decisões questionáveis para o roteiro chegar no lugar que deseja. Porém, essas fraquezas não atrapalham tanto na divertida experiência que é essa mistura entre subgêneros. Fico curioso para o próximo filme de Landon e ver esse essa mistura se tornará a marca de sua carreira.
Nota: 7.5
Assista ao trailer:
Ficha Técnica:
Título original: Freaky
Data de lançamento: 29 de julho de 2020
Direção: Christopher B. Landon
Elenco: Vince Vaughn, Kathryn Newton
Gêneros: Terror, Comédia
Nacionalidade: EUA