“Ghost of Tsushima” conta a história de Jim Sakai, samurai que sobrevive à invasão Mongol na ilha de Tsushima, no século XIII e busca aliados para se vingar e resgatar o seu tio, Lorde Shimura, aprisionado por Khotun Khan, neto de Genghis Khan.

Homenagem

O maior problema de “Ghost of Tsushima” não é o jogo em si, mas, sim, ter sido lançado apenas um més após “The Last of Us Part II”. Este elevou muito o nível das possibilidades que um game pode apresentar, tanto estética quanto narrativamente, e provavelmente não será superado nos consoles atuais. Ao mesmo tempo, é interessante observar que esses dois jogos (e outros lançados recentemente) apresentam algumas semelhanças, como já abordei em mais detalhes em outro texto.

Entretanto, se analisarmos “Ghost of Tsushima” da forma correta, pelo que se propõe a ser, encontramos um game que consegue se destacar por sua proximidade com o cinema e a cultura japonesa. Não há nenhuma intenção aqui de esconder as homenagens aos filmes de samurai e ao grande mestre do gênero Akira Kurosawa, com direito até a um “Modo Kurosawa”, em que a imagem fica em preto e branco e granulada, para simular a película usada pelo diretor nos filmes de sua majoritária fase P&B.

E, por mais que esse recurso tenha me causado um pouco de estranhamento ao combinar o granulado com a artificialidade da computação gráfica, é impossível não elogiar a importância que o game tem ao instigar o público a conhecer um cinema importante, porém extremamente nichado atualmente. É inegável que filmes mais antigos e não-hollywoodianos causam pouco interesse na grande parcela do público e acredito que só de despertar interesse em pessoas que nunca consumiriam essas obras, já faz do game relevante artisticamente falando.

Todavia, não é apenas essa a relação que “Ghost of Tsushima” tem com a sétima arte. Apesar de seguir o modelo tradicional de um jogo em mundo aberto, o que o afasta da narrativa cinematográfica por dispersá-la em diversas missões secundárias e exploração do mapa, o game se apoia muito na estética do cinema, com fortes referências a diversos filmes, como já abordei nesta lista. Enquadramentos, design de produção contrastando belas paisagens coloridas, como a floresta de flores amarelas, com zonas devastadas pelos mongóis, figurinos e bela fotografia, que usa uma iluminação realista nesse design de produção para direcionar nosso olhar, são apenas alguns dos elementos que aproximam o jogo da rica linguagem cinematográfica.

Ghost of Tsushima 1

Mundo aberto

Porém, como eu já disse acima, o game é um mundo aberto tradicional, lembrando até um pouco jogos como “The Witcher 3: Wild Hunt”, “Red Dead Redemption” e o último “God of War”, sendo a proximidade com o primeiro a mais notável, ainda que em mundos bem diferentes. Mas, se as funções e a relação de exploração se assemelha a outros games, mais uma vez “Ghost of Tsushima” consegue ser singular ao dar atenção aos detalhes e aproximá-los da cultura japonesa do século XIII e todo imaginário que temos dessa época.

Então somos guiados aqui pelo vento ao nosso destino (elemento relevante na filmografia de Kurosawa), temos disponíveis diferentes posições de luta dos samurais, cada uma delas eficiente contra adversários específicos, há toda uma contemplação da natureza que é rara em games do gênero e os movimentos do nosso protagonista são fluidos e cirúrgicos, como se espera de um bom samurai. É um agradável passeio por uma época que pouco temos acesso no ocidente.

Ainda assim, é bem verdade que a narrativa fragmentada em missões secundárias tornam essas mais interessantes do que o objetivo principal. Resgatar o tio acaba sendo apenas um mcguffin para que o Lorde Sakai encontre aliados em sua busca por vingança. Essa relação engrandece alguns personagens secundários e suas histórias, mas tira um pouco o foco da história principal, algo que o já citado “The Witcher 3” fez melhor, por exemplo.

De qualquer forma, “Ghost of Tsushima” é um excelente começo de franquia e um game capaz de fazer o ocidente olhar mais para o oriente e suas peculiaridades, algo bem raro infelizmente. Se você não for esperando mais um “The Last of Us Part II”, provavelmente “Ghost of Tsushima” vai te encantar.

Nota: 8.5

Assista ao trailer:

Ficha Técnica:

Título original: Ghost of Tsushima
Data de lançamento: 17 de julho de 2020
Direção: Nate Fox e Jason Connell
Gêneros: Samurai, Ação, Drama
Nacionalidade: EUA