“Greyhound” conta a história de um comboio de embarcações que tenta levar suprimento aos Aliados durante a Segunda Guerra Mundial. Liderados por um capitão em seu primeira missão, eles sofrerão diversos ataques de submarinos alemães, os temidos U-Boots.
O filme está disponível no catálogo Apple TV+ e foi indicado ao Oscar 2021 na categoria de Melhor Som.
Um novo “Dunkirk”?
“Greyhound” não chega a ser um filme gêmeo de “Dunkirk”, até porque são separados por três anos (geralmente esse termo é utilizado para obras que lançam quase juntas), mas adota uma lógica bastante semelhantes de imersão na Segunda Guerra. Entretanto, ao contrário da escolha de Christopher Nolan de transitar entre diversos personagens e não dar personalidade para nenhum deles, o que afasta o espectador, o filme de Aaron Schneider centraliza todas as suas ações em um capitão, com o objetivo claro de criar um vínculo entre este e o público.
Nesse sentido, a escolha de Tom Hanks para o papel é fundamental, pois o carisma do ator e sua carreira predominada por interpretações de good guys nos faz imediatamente simpatizar com aquele personagem. Na verdade, nos aproximamos mais dele pela escolha do ator do que necessariamente pelas escolhas de roteiro, que tenta apelar para uma relação sem qualquer desenvolvimento entre ele e a personagem de Elizabeth Shue, mirando apenas mostrar a personalidade do protagonista à força.
Por sorte, isso é rapidamente esquecido (ainda que o filme faça questão de nos lembrar de tempos em tempos com flashbacks que só servem como interrupções desnecessárias), e vemos aquele personagem agindo e demonstrando sua humanidade e paixão pelo trabalho na prática, por meio de pequenos gestos, como a rejeição a uma comida melhor do que seus comandados ou até a preferência pela missão em detrimento ao sono ou alimentação. Hanks dá vida a esse personagem, sempre atento, preocupado e pensativo, por um lado inseguro por ser sua primeira missão, por outro cerebral para responder rápido às situações.
Porém mais do que um filme sobre o personagem, “Greyhound” se propõe a ter uma abordagem mais direta sobre a guerra, nos colocando desde o início em uma zona de combate. Com isso, o militarismo se destaca com o bom senso de espaço, de visibilidade e falta de visibilidade de seus atacantes, o senso de isolamento reforçado pela cinematografia e as decisões tomadas para vencer os alemães, que, como em “Dunkirk”, surgem como uma ameaça sem rosto, o que acaba conflitando com a humanidade que o longa tenta pregar.
E tal dinâmica só funciona pela curta duração do filme e ótima montagem, que cria apenas pequenos respiros em meio a várias longas sequências de combate, sempre alternando entre a tensão da cabine de comando e os acontecimentos no mar. Aqui, Schneider nos coloca para viver a apreensão daquela posição, transitando entre o radar que demonstra o alvo, a visão externa e som do motor, da chuva e do mar, em um trabalho que certamente merecia a indicação ao Oscar.
Entretanto, por mais que o longa tente criar a empatia pelo protagonista nos pequenos gestos, o que em parte funciona, e tenha um bom trabalho de tensão reforçado pela ação em campo, é inegável que falta um pouco de coração para a obra como um todo. Essa abordagem mais distante, sem desenvolvimento de personagens secundários, acaba tirando a importância daqueles que podem sofrer as ações. Se não nos importamos com quem pode morrer no combate, consequentemente a ação perde força, colocando o público apenas como meros observadores. Talvez com 20 minutos a mais resolveria essas questões e tornaria “Greyhound” um grande filme, tirando-o da gigantesca massa que forma os “bons, mas não ótimos” filmes de guerra que já foram feito ao longo da história do cinema.
Nota: 6.5
Assista ao trailer:
Ficha Técnica:
Título original: Greyhound
Data de lançamento: 10 de julho de 2020
Direção: Aaron Schneider
Elenco: Tom Hanks, Elizabeth Shue
Gêneros: Drama, Guerra, Ação
Nacionalidade: EUA