“Host” traz um grupo de amigas que decide fazer uma sessão com uma médium via Zoom durante a quarentena. Mas a reunião não sai da forma como elas esperavam.

O filme está disponível na Netflix.

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Eu sempre digo que o cinema não existe em um vácuo, cada filme é feito dentro de um contexto tanto cinematográfico (gênero, por exemplo) quanto da realidade em que está inserido. Então, já era esperado que a pandemia trouxesse consigo uma série de obras com relação direta a ela e à vida em quarentena. Mas “Host” não para por aí e traz o contexto social relativamente novo das redes sociais, algo bastante recorrente nos filmes da última década.

Assim, temos mais um exemplar do web horror, subgênero do terror que usa dispositivos da tecnologia como elemento predominante de sua estrutura. Só que o novo longa de Rob Savage mergulha ainda mais de cabeça nessa lógica ao ter o filme inteiro feito em uma reunião de Zoom (um dos possíveis futuros clichês em filmes de pandemia), algo que não é novo (“Buscando…” talvez seja o longa que melhor usou a dinâmica de telas) mas que tem aqui um ótimo exemplar desse subgênero.

Como a premissa e a duração, 55 minutos apenas, já sugerem, esse é um daqueles filmes de baixo orçamento que precisam ser inventivos para funcionar. E fica mais do que claro que o custo de produção é bastante pequeno, ficando restrito a salas e quartos de sete habitações, sempre filmados para simular uma webcam. Dessa forma, Savage transforma a falta de orçamento em charme e realismo, ao trazer para o longa todos os problemas técnicos de uma reunião entre amigas no Zoom.

Todas as atrizes, usando seus nomes reais, o que cria uma interessante metalinguagem, parecem à vontade. Sem maquiagem ou preparação de cenário, a fotografia não busca uma beleza, mas sim uma naturalidade. Além disso, tem toda a movimentação das câmeras quando elas mexem o computador ou celular, as travadas nos vídeos no meio da fala, a montagem que coloca em tela grande aquela que está falando (regra que o longa dá uma leve roubadinha vez ou outra), o mouse da host se movimentando, entre muitos elementos.

Critica Host 2020 2

Então, com toda a lógica estética estabelecida logo de início, o filme não perde tempo ao criar a relação de amizade e de atrito entre aqueles amigos (destaque para a excelente piada do “shot do plano astral”). Não é necessário um profundo desenvolvimento de personagem para que rapidamente fiquemos do lado deles, já que toda aquela amizade parece crível e as diferenças entre eles vaão se acentuando aos poucos. O longa está muito mais interessado em ver como aquelas pessoas que acabamos de conhecer vão agir nas situações que estão por vir.

Além disso, o simples fato de passar por uma sessão dessas, todos sozinhos e incapazes de saber o que está acontecendo atrás deles já é suficiente para criar uma tensão engajante. Ainda mais depois que uma regra é apresentada pela médium e logo sabemos que aquilo tem tudo para piorar muito.

Entretanto, Savage tem um controle total sobre o ritmo da sua obra, estendendo a tensão e apresentando gradativamente elementos aterrorizantes (como a cena do sótão), mas esperando até que tudo aquilo se concretize e ganhe um contorno mais visual. Depois de nos prender por quase 30 minutos de pura apreensão, usando muitos recursos do próprio Zoom para nos deixar mais em dúvida sobre o destino de algumas personagens, o diretor nos leva a um furacão de acontecimentos alucinantes, deixando o público incapaz de respirar por mais de 20 minutos. O que poderia se tornar repetitivo, volta a funcionar por causa da criatividade da direção e da naturalidade com que a as atrizes vivem aqueles eventos.

Nota: 8.0

Assista ao trailer:

Ficha Técnica:

Título original: Host
Data de lançamento: Não teve estreia nos cinemas brasileiros
Direção: Rob Savage
Elenco: Haley Bishop, Jemma Moore, Emma Louise Webb
Gêneros: Terror
Nacionalidade: Inglaterra