“Jolt” acompanha Lindy, uma mulher com problemas psicológicos que fazem com que ela sinta raiva incontrolável quase o tempo todo. Unido aos experimentos que passou na infância a fim de solucionar sua questão, ela também teve seu metabolismo modificado e algumas características sobre-humanas. Ela finalmente conhece um cara que parece ser a pessoa de sua vida, mas ele é morto e agora ela fará de tudo para vingá-lo.
O filme está disponível no catálogo da Amazon Prime Video.
Um filme B em evidência
“Jolt” é um filme que se beneficia muito da guerra entre os streaming. É inevitável que um dos maiores diferencias desses serviços é a distribuição de conteúdos próprios, sejam esses filmes e séries produzidos por determinado streaming ou fruto de uma compra ou parceria entre o serviço e alguma distribuidora. Dessa forma, os streaming aumentam a gama de conteúdos exclusivos e que ficarão para sempre em seu catálogo, diminuindo a dependência de buscar filmes de outros estúdios e pagar para mantê-los no catálogo por tempo limitado. Só que essa lógica de mercado é cara e é impossível algum serviço se manter apenas com grandes produções originais. Então, essas se tornam exceções, enquanto o catálogo original começa a ser formado majoritariamente por filmes sem tanto espaço no cinema atualmente, como os de médio orçamento, independentes, filmes B e filmes de gênero como um todo. É justamente por causa desse movimento que “Jolt” é lançado e divulgado como um dos principais lançamentos da Amazon Prime no mês.
O novo longa de Tanya Wexler e protagonizado por Kate Beckinsale, que há tempos não aparecia em um filme de destaque e aqui parece se divertir com o humor e os exageros da personagem, é um filme de ação com todos os traços de filme B e cinema vulgar. Abrindo mão de quase qualquer pretensão dramática ou discussão acerca da condição da protagonista e como a sociedade a enxerga (são dadas apenas pinceladas mínimas em relação ao preconceito), a diretora não tem vergonha de adentrar em um mundo frenético que em nada se parece com o nosso.
Qualquer busca por sentido ou lógica certamente frustrará o espectador. Isso porque Tanya leva ao extremo sua abordagem direta do roteiro, precisando recorrer a uma séries de conveniências ou explicações explícitas tanto em texto quanto visualmente, por exemplo uma série de situações constrangedoramente forçadas para mostrar como a personagem vive em constante conflito com a sociedade e sempre se segurando para não agredir alguém. Então, um ricão arrogante xinga o manobrista, a garçonete trata ela e o namorado mal e depois vai para o banheiro se gabar disso, há vários momentos em que ela imagina o que faria antes de tomar o seu choque de controle, entre outras situações quase infantis para mostrar na prática o mundo de Lindy.
E, de certa forma, o filme usa a condição da protagonista para se estabelecer em meio ao caos. Parece que a diretora, o diretor de fotografia e o montador usaram ácido na hora de começar a realizar o filme. Mas, por mais que tudo isso possa parecer a fórmula para o desastre, Tanya consegue segurar o filme no limite entre vergonha alheia e ação despretensiosa. A falta de respiros nos mantém dentro desse êxtase absurdo e quase surrealista. A partir do momento que o espectador para de levar a sério qualquer busca por alguma lógica real, “Jolt” até começa funcionar como um filme de gênero bastante decente.
Claro que em parte essa barreira muitas vezes é muito mais imposta pelo espectador do que pelo filme. “Jolt” é muito mais uma fantasia do que realmente ficção científica. E é um filme plenamente consciente disso, assim como o é de suas breguices, absurdos e canastrices, o que é facilmente perceptível nas atuações super caricatas, mas que dialogam bem com a proposta do filme. Claro que estar de acordo com aquilo que se propõe ou aceitar qualquer absurdo como normal não isenta o longa de uma série de problemas, principalmente como ele tem uma dificuldade de estabelecer uma linha narrativa ou criar sequências de ação realmente marcantes.
Ao avançar por impulso, a obra dá menos atenção para possíveis picos de ação e parece nem se interessar muito em criar um clímax que satisfaça a sua simples trama. A reviravolta final é tão canastrona como todo o longa, é um daqueles momentos em que Tanya perde a mão e descamba para a vergonha alheia, ainda que tenha total consciência disso, algo reforçado pelas atuações e principalmente pela explosão em CGI que é digna de um filme caseiro. Não menos ridículo é a tentativa de abrir espaço para uma possível sequência na cena final ou a cena pós-créditos com uma piadinha desnecessária.
De qualquer forma, não deixa de ser um pouco satisfatório esse abraço nos filmes B que a diretora dá. O último grande lançamento da Amazon Prime, “A Guerra do Amanhã” deveria aprender um pouco com “Jolt” a ser mais descompromissado e abandonando aquela filosofia barata.
Nota:
Assista a minha crítica em vídeo:
Assista ao trailer:
Ficha Técnica:
Título original: Jolt
Data de lançamento: 23 de julho de 2021
Direção: Tanya Wexler
Elenco: Kate Beckinsale, Stanley Tucci, Jay Courtney
Gêneros: Ação, Ficção Científica
Nacionalidade: EUA