“Justiça em Família” acompanha um pai buscando vingança pela morte de sua esposa contra uma inescrupulosa organização que fabrica remédios para pessoas com câncer.
O filme está disponível no catálogo da Netflix.
Um filme com vergonha de se assumir
“Justiça em Família” sofre por causa de uma tendência que dominou Hollywood e, hoje, parece obrigatória a todos os filmes. Apesar de ser um típico filme de vingança, a nova produção protagonizada por Jason Momoa não se aceita como uma simples obra de gênero e busca uma pseudo profundidade como forma de aceitação.
Não é de hoje que os filmes hollywodianos tenham colocado como regra uma suposta profundidade dramática e a obrigação por um realismo seletivo. E, se possível, um tom mais sombrio para sustentar toda essa auto importância. Porém, isso se espalha cada vez mais para os filmes de gênero, fazendo com que esses muitas vezes rejeitem os seus próprios elementos característicos em prol dessas “regrinhas obrigatórias”. “Justiça em Família” é mais um a embarcar nessa ideia tola.
Não à toa, os melhores filmes de ação desse eixo mais comercial nos últimos anos foram justamente aqueles que colocaram a ação em primeiro plano. “Mad Max: Estrada da Fúria” fez da sua narrativa um caos incessante e se sustentou por meio dessas grandes sequências deliciosamente frenéticas. “John Wick” fez da ação quase um balé poético violento. Os últimos (e melhores) filmes da franquia “Missão Impossível” usaram as convenções da espionagem apenas como desculpa para poder mergulhar em uma ação mais absurda. Até mesmo “Atômica” fez da sua estética saturada um palco para a pancadaria. Todos esses filmes funcionam por uma simples escolha: a ação é o foco e o coração dessas obras.
Enquanto isso, “Justiça em Família”, apesar de contar com um dos grandes astros de ação da atualidade como protagonista, rejeita ser “só” um filme de ação. Parece que essa auto importância super pretensiosa é uma vergonha da obra de aceitar sua característica principal. Como se ser um filme de ação fosse algo menor, menos artístico. Por causa dessa escolha, somos obrigados a ver um draminha cafona de pai e filha que nunca chega próximo de debater o luto satisfatoriamente e, claro, a inserção de um plot envolvendo uma grande corporação e uma candidata a senadora que só marca presença porque o filme acredita que para ser mais profundo necessita de uma trama socialmente relevante, ainda que trabalhe essa questão de um forma ridiculamente genérica e previsível. Mas não para por aí, a arrogância do roteiro é tanta que ele se sente na obrigação de inserir um plot twist que ofende a inteligência do público. E a razão para isso é muito clara, ele quer parecer inteligente, já que plot twist virou quase uma exigência do público atual.
Só que toda essa pretensão desnecessária não só não agrega como retrata uma hipocrisia interna do filme. Ele se acha tão inteligente e profundo, mas não percebe o quão genéricas são suas escolhas. Os próprios personagens (protagonista injustiçado se vingando, capanga malvadão habilidoso, político corrupto, magnata sem humanidade) seguem quase uma cartilha dos filmes de vingança. Então por que sacrificar a ação em prol de uma pseudo profundidade? Essa vergonha do próprio gênero acaba por ser o grande calcanhar de Aquiles do longa.
Porém, talvez eu esteja sendo exigente demais. “Justiça em Família” é uma vítima da proposta da Netflix de lançar uma “grande” estreia por semana, já que o filme se encaixa nesse padrão apenas pela presença do popular Momoa no elenco. No mais, se o longa fosse lançado na década de 1990, ele teria chegado direto em VHS e não incomodaria ninguém. Ficaria restrito a um pequeno público que o procuraria sem esperar muita coisa.
Nota:
Assista a minha crítica em vídeo:
Assista ao trailer:
Ficha Técnica:
Título original: Sweet Girl
Data de lançamento: 20 de agosto de 2021
Direção: Brian Mendoza
Elenco: Jason Momoa, Isabela Merced
Gêneros: Ação
Nacionalidade: EUA