“Mindhunter” acompanha uma unidade especial do FBI destinada a estudar e entender a mente dos principais serial killers dos EUA. Baseado em fatos reais, eles foram alguns dos precursores desses estudos criminais.

Evolução da série

Apesar de não ser o criador da série, é evidente a presença de David Fincher na obra. Não só na estética visual, mas também na bela trilha sonora, no ritmo e principalmente na criação de uma atmosfera tensa e obscura. Graças ao fascínio do diretor pelos serial killers e pelo estudo da mente humana, é possível, com o foco necessário, trazer originalidade para uma temática tão saturada. Aqui os assassinos não são meras desculpas do roteiro para criar uma obra de ação ou investigação sem profundidade, eles estão no centro e funcionam como objeto de estudo.

Mas o sucesso de “Mindhunter” não é aleatório, Fincher trabalha com a temática desde o espetacular “Seven” (1995). De lá para cá, o suspense criminal sempre esteve presente em sua carreira. Vale um destaque também para “Zodíaco” (2007), outra obra-prima do diretor sobre a temática e que tem seu assassino citado diversas vezes nesta temporada.

Porém, ao criar uma série intrigante em 2017, dessa vez os realizadores tinham uma difícil missão: a expansão. Com mais recursos, reconhecimento e desenvolvimento da vida pessoal dos antes coadjuvantes e agora principais Wendy (Anna Torv) e Bill (Holt McCallany), a temporada corria o risco de cair no clichê da sequência que é maior, mas não consegue repetir a qualidade. Entretanto, o domínio completo do material permitiu que esse desenvolvimento narrativo fosse feito com consciência.

Testando as teorias

Ao tornar Bill e Holden (Jonathan Groff) em investigadores, a série foca na tentativa deles de colocar as suas teorias em prática. O ritmo é essencial para isso. Ao seguir a mesma abordagem mais realista, em nenhum momento os protagonistas são transformados em investigadores capazes de ter sacadas mirabolantes para resolver o caso. Tudo é pensado, o roteiro toma o seu tempo e o ritmo cadenciado nos faz sentir o que é trabalhar nessa profissão.

E essa é outra sacada fundamental: colocar o público na pele dos personagens. Ou seja, os protagonistas estão em constante aprendizagem e ao mesmo tempo que eles descobrem algo, o público fica sabendo junto. Mas, claro, tudo com consciência e naturalidade, nada de exposição barata. Dessa forma, a série jamais subestima o seu público, já que este serve como personagem essencial para a obra. Até a utilização da TV como exposição, recurso que geralmente é apenas preguiçoso, funciona perfeitamente.

Mas de nada adiantaria tudo isso se os assassinos fossem apenas genéricos. Felizmente, por ser baseado em fatos reais e tomar certas liberdades criativas, a série consegue trazer uma pluralidade complexa de serial killers. E justamente por serem tão diferentes, a tentativa de criar um padrão para todos (sobretudo o Holden), falha constantemente.

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Atlanta

É no caso de Atlanta que a série ganha um outro escopo. Um caso de visibilidade nacional em que Holden e Bill estão a cargo de desvendar quem é o assassino das crianças. Porém na prática eles percebem que os seus estudos ainda não são tao bem aceitos. Sobretudo em uma cidade marcada pela tensão racial e pelos constantes ataques da Ku Klux Klan. Ou seja, não basta ser estudiosos ou até investigadores, requer saber lidar com a população local, com a imprensa e com políticos. Dessa forma, entendemos de verdade o que é ser um investigador. Isso vai desde o convencimento das teses até as noites em claro no carro da polícia esperando por algum movimento.

E tudo ganha um desfecho ainda mais impressionante no último episódio. Com mais de uma hora de duração, o capítulo funciona como um longa completo. A divisão em três atos é perfeita, a criação de tensão, os pontos de virada e uma resolução contida, da forma que a série pedia. É impressionante a quantidade de temas e gêneros trabalhados apenas nesse episódio. E o melhor de tudo, ele deixa ótimas pontas soltas para a próxima temporada. Mindhunter segue sabendo explorar demais o desconhecido, pois boa parte da série se resume ao que esta não mostra.

Personagens

Além da vida profissional, o estudo e as investigações, Mindhunter sabe da importância de construir bons protagonistas. E a série faz isso ao mostrar a vida pessoal deles, a dificuldade de relacionamentos de pessoas que vivem para entender a mente humana. E no caso de Wendy tem o fato dela não poder se abrir nem com os colegas mais próximos devido à sociedade machista e preconceituosa em que vive. Nesse sentido, a série traz boas pinceladas, sem nunca ficar forçado, de como a homofobia era infelizmente tratada como algo normal, o que acende um alerta até para os dias de hoje.

Já para Bill, o dilema é manter uma família, é entender os sentimentos da mulher ou os pensamentos do filho. Parece que quanto mais ele conhece os assassinos, menos ele compreende os seus mais próximos. Destaque aqui para a ótima atuação de Stacey Roca, que vive Nancy, a esposa do Bill.

Por outro lado, Holden nem tem sua vida social mostrada. Se lembrarmos, ele tinha dificuldade de dar prioridade para o seu relacionamento. E, talvez, essa obsessão pelo trabalho tenha feito com que ele tenha deixado de ter uma vida social.

Nota: 9.5

Assista ao Trailer:

Ficha Técnica:

Título original: Mindhunter
Data de lançamento: 16 de agosto de 2019 (9 episódios)
Elenco: Jonathan Groff, Holt McCallany, Anna Torv mais
Gêneros: Drama, Crimes
Nacionalidade: EUA