“O Escândalo” conta a história das funcionárias da Fox News que denunciaram a cultura de assédio sexual e moral da empresa, levando à queda do CEO e magnata Roger Ailes.

Oscar bait contemporâneo

“O Escândalo” não tem vergonha de seguir à risca o bom e novo formato do Oscar bait moderno. Ou seja, aquele padrão que vem ganhando força desde “A Grande Aposta” (filme em que o formato foi melhor executado), e que mais recentemente foi reconhecido pela Academia em “Vice”. Por coincidência (ou não) o diretor desses dois filmes é o mesmo: Adam McKay. E uma curiosidade é que ele começou a carreira fazendo comédias exageradas antes de se aventurar no campo dos filmes baseados em acontecimentos reais.

Outro fato que não é coincidência é “O Escândalo” ter Charles Randolph como roteirista, o mesmo de “A Grande Aposta”. Dessa forma, ele segue quase à risca o seu trabalho anterior, que lhe rendeu um Oscar de Melhor Roteiro Adaptado. O problema é que o seu predecessor abordava um tema em que permitia muito mais esse estilo satírico do gênero, enquanto em seu novo projeto a escolha pela comédia acaba tirando boa parte da credibilidade do assunto seríssimo abordado: a cultura de assédio sexual e moral em diversas empresas.

Além disso, a direção de Jay Roach não tem vergonha de trazer o estilo de McKay. São diversas inserções aleatórias na tela (tweets de Trump, logo da Fox News, nome dos personagens), um texto irritantemente expositivo e artificial e a quebra da quarta parede para fazer humor. Porém, a maioria delas não seguem qualquer tipo de propósito narrativo e só aparecem como forma de fazer algo “diferentinho”. Nesse sentido, “O Escândalo” está muito mais para “Vice” do que para a grande “A Grande Aposta”, já que até McKay perdeu a mão no exagero da aleatoriedade nesse longa.

E o que não surpreende é que Roach também começou a carreira fazendo comédias ao estilo McKay, como a franquia Austin Powers. bombshell

Atuações

Entretanto, se a direção e o roteiro se perdem bastante, o fato do tema ser levado às telas do cinema já é uma grande vitória. O abuso não aconteceu apenas na Fox News, ele segue existindo em diversas empresas por todo mundo. Então, trazer a situação à tona é importante para que outras mulheres também se unam para lutar contra essa cultura nojenta e abusiva.

Mas o que dá mais valor ainda para o projeto são as três atuações centrais, sem dúvida o ponto mais alto de todo o longa. Charlize Theron entrega a força feminina em uma personagem que tenta lutar contra os seus traumas do passado. Ela se perde dentro da personagem e aparece de forma irreconhecível, algo que é um grande feito aqui. Mas, apesar da ótima atuação, mais uma vez o roteiro peca, ao mostrar apenas uma faceta de Megyn Kelly (jornalista que Theron interpreta e que na vida real já cometeu diversos atos preconceituosos, incluindo racismo).

Nicole Kidman controla bem o estado emocional da personagem que é a primeira a falar contra Ailes. Já Margot Robbie, traz uma ingenuidade formidável para uma personagem conservadora e que idealizava a Fox News, mas quando entra na emissora descobre que aquilo é muito diferente do que pensava. E ela tem a melhor cena do filme, que certamente pesou para a justa indicação dela ao Oscar.

Além de Robbie, o longa está indicado a Melhor Atriz (Theron) e Melhor Maquiagem e Cabelo, no prêmio da Academia.

Nota: 6.0

Crítica em vídeo: Assista abaixo à crítica em vídeo que eu fiz sobre o longa em meu canal, o 16mm.

Assista ao trailer: Ficha Técnica: Título original: Bombshell (O Escândalo) Data de lançamento: 16 de janeiro de 2019 (1h 50min) Direção: Jay Roach Elenco: Charlize Theron, Margot Robbie, Nicole Kidman mais Gêneros: Drama, Sátira Nacionalidade: EUA