“Rede de Ódio” acompanha um sociopata polonês que trabalha ajudando a disseminar ódio e violência nas redes sociais. Porém, ele acaba mergulhando de cabeça na criação de fake news a ponto de gerar uma guerra civil em seu país.

O filme está disponível na Netflix.

O prazer do poder

“Me importo com pessoas”, diz Tomasz (Maciej Musiałowski) em certo momento do filme após ser questionado sobre seu envolvimento com política. E é justamente sobre isso a jornada do protagonista de “Rede de Ódio”, um sociopata que encontra na internet a possibilidade de brincar de Deus e manipular a sociedade sem ser punido por isso.  Ao relacionar a história com eventos reais, como o crescimento assustador do neonazismo na Polônia e ascensão da extrema-direita no Leste Europeu (e no mundo), ao utilizar as fake news como uma potente arma de manipulação de massas e criação de bolhas, o longa enxerga as redes sociais com pessimismo e medo.

Entretanto, o filme está muito mais preocupado com a jornada de seu protagonista do que necessariamente com a crítica às redes sociais, que se fosse levada muito a sério poderia cair na obviedade, como o fraco “Dilema das Redes”, também da Netflix. A preocupação do real aparece muito mais como subtexto do fictício ao mostrar como qualquer pessoa com um pouco de conhecimento da internet e sem freios morais é capaz de vender uma falsa realidade para uma série de seguidores.

E não deixa de ser fascinante acompanhar esse cruel, inteligente, solitário, obstinado e ambicioso sociopata. Mais do que vê-lo, “Rede de Ódio” nos torna cúmplices de suas ações, que começam pequenas, porém reveladoras, com uma invasão de privacidade de aqueles que parecem zombar dele, mas vão escalando gradualmente até resultarem na destruição de reputações ou até na morte de outras pessoas.

Critica Rede de Odio Netflix

Além da atuação cativante e brutal de Musiałowski, o cineasta Jan Komasa (“Corpus Christ”) acerta o tom do longa ao criar um thriller psicológico sem aspirações realistas. Assim, ele permite que as ações de seu protagonista se tornem ainda mais ambiciosas e destrutivas, ao mesmo tempo que envolve outras pessoas responsáveis por manter o ódio e a violência funcionando nessa rede. Mais do que isso, tal escolha afasta Tomasz diretamente de algum espectro político para torná-lo alguém que sente prazer pelo poder e pela impunidade. Alguém que se alimenta da destruição e do caos e por isso não mede esforços para atingir os seus objetivos.

Dessa forma, o desfecho à la “Taxi Driver” acaba por ser perfeito para toda a jornada de Tomasz e, assim como Martin Scorsese fez em 1976, evidencia o quão doente é a sociedade e a idolatria à violência. Além disso, o final que espelha o começo é só o fechamento com chave de ouro desse protagonista, que retorna ao pessoal após interferir no global e resolve a sua maneira o que ele não conseguiria se agisse eticamente. Ele pouco se importa o que fez para chegar ali, apenas se preocupa com o lugar onde está no momento.

Nota: 7.5

Assista ao trailer:

Ficha Técnica:

Título original: Hejter
Data de lançamento: 29 de julho de 2020
Direção: Jan Komasa
Elenco: Maciej Musiałowski, Vanessa Aleksander, Agata Kulesza
Gêneros: Suspense, Drama
Nacionalidade: Polônia