“Shadow” conta a história de um sombra, pessoa que substitui o comandante Ziyu, da cidade de Pei, por causa da semelhança física. Ele serve ao rei Peiliang, mas segue o plano do comandante, que permanece escondido dentro do palácio.
O longa foi lançado em festivais, em 2018, mas ainda não tem previsão de estreia no Brasil, seja nos cinemas ou em streaming.
A Volta de Yimou
Depois do desastroso “A Grande Muralha”, filme sem identidade que não sabe se quer ser um wuxia ou um filme de ação hollywodiano, Zhang Yimou retorna ao cinema chinês e às suas origens. O cineasta ficou conhecido internacionalmente após os dois belos wuxias “Herói” e “O Clã das Adagas Voadoras” (ambos receberam indicações ao Oscar), mesmo que já tivesse trabalhos anteriores aclamados pela crítica.
Em “Shadow”, ele traz de volta a essência narrativa de wuxia, ainda que a fantasia das artes marciais sejam menos distantes da nossa realidade e a fotografia e design de produção abandone cores como vermelho, verde, amarelo e azul, que eram predominantes nos dois filmes citados. Porém, a história segue sendo narrada como um conto do passado, desde a apresentação dos personagens misteriosos, passando pelos conflitos entre reinos, até as reviravoltas impossíveis, mas que se encaixam perfeitamente na proposta narrativa. Até a ideia de um “sombra” é quase um folclore chinês.
Entretanto, o mistério que rodeia os personagens e torna as reviravoltas possíveis em nenhum momento implica em superficialidade, muito pelo contrário. O comandante, o sombra, o rei, a princesa, o rei rival, a mulher do comandante, entre outros, estão longe de serem apenas os estereótipos que as suas posições na trama supõe inicialmente. Mas evitarei falar sobre eles para não entregar os twists do longa.
Visual e ação
Além disso, apesar de abandonar as cores mais vivas que marcaram seus wuxias anteriores, “Shadow” não é mais realista nesse sentido. Todavia, a escolha aqui é por um clima mais sombrio, com fotografia e design de produção que apostam principalmente em tons de cinza e preto, além da chuva quase interminável, mas que não é menos belo por isso. As escolhas visuais também estão longe de serem apenas enfeites técnicos, elas remetem a pontos fundamentais da trama, sobretudo a ideia de de Yin-Yang, que aparece mais claramente com a dinâmica central entre o comandante e seu sombra, mas pode ser visto na relação entre praticamente todos os personagens do longa.
Já a chuva, além de acrescentar ao tom do filme e ao sentimento dos personagens, ela surge como um potencializador fundamental para a técnica do guarda-chuva utilizada pelo sombra e por todo o exército de Pei. E é nesse sentido que “Shadow” se destaca muito. Os elementos da mise en scène são constantemente utilizados para o desenvolvimento narrativo, o que só demonstra a inventividade de Yimou. Destaque para a cena da descida de guarda-chuvas (imagem acima), algo que eu jamais esperava ver em um filme de época chinês.
Ademais, falar que as cenas de ação são impecáveis é chover no molhado. Yimou é um dos grandes mestres do wuxia e aqui mostra mais uma vez o seu talento ao combinar coreografia, mise en scène, planos longos e câmera lenta (Zack Snyder deveria assistir a esse filme para aprender a usar o recurso de forma realmente poética).
Dessa forma, “Shadow” marca o retorno de Yimou ao gênero que o consagrou. Narrado como um conto, poético, visualmente deslumbrante e repleto de bons personagens e reviravoltas, o filme é um prato cheio para os fãs de wuxia.
Nota: 8.5
Assista ao trailer:
Ficha Técnica:
Título original: 影 (Shadow)
Data de lançamento: Sem estreia nos cinemas brasileiros
Direção: Zhang Yimou
Elenco: Deng Chao, Khai Zheng, Betty Sun mais
Gênero: Wuxia, Ação
Nacionalidade: China