“Vingança e Castigo” acompanha pessoas negras que existiram no velho oeste, mas em uma história fictícia, que coloca frente a frente dois bandos de fora da lei.
O filme está disponível na Netflix.
Um faroeste renovado
“Vingança e Castigo” une elementos de Quentin Tarantino a Spike Lee, enquanto o diretor Jeymes Samuel renova a linguagem do gênero com energia, cores vibrantes, violência e muita música.
Um dia o grande gênero de Hollywood e responsável por grande parte das produções todos os anos, o faroeste foi aos poucos se tornando menos popular. Consequentemente. os estúdios passaram a olhar para esses filmes com desconfiança, como se eles fossem um risco para as bilheterias. Dessa forma, chegamos em um momento em que as produções de western são raras e geralmente para serviços de streaming, sobretudo a Netflix, o que não deixa de ser irônico, já que o gênero sempre teve como marca os grandes planos gerais e a imensidão do espaço, o que clama por uma tela grande de cinema.
Então, “Vingança e Castigo” segue uma tendência do faroeste contemporâneo, em que elementos clássicos são mantidos, como a montagem de duelos, os planos gerais, os personagens (xerife, fora da lei), os espaços e situações (saloon, assalto a banco e a trem), mas a linguagem é renovada para trazer elementos do blockbuster atual, como o ritmo mais ágil, o sangue e a violência mais presentes (que só começa a aparecer no gênero já no faroeste revisionista, em meados da década de 1960), um humor mais proposital, musicas atuais e as cores vibrantes nos figurinos e design de produção.
Então, combinando esses elementos muito presentes em filmes recentes do Tarantino e dos Irmãos Coen com a vertente do blaxploitation, não só ao colocar personagens negros em papéis que sempre foram destinados aos brancos, mas também ao trazer essas mulheres negras badass em primeiro plano, Samuel encontra a sua identidade estilística por meio do uso das músicas, construindo esse forte senso de contemporaneidade a um gênero ambientado e consagrado no passado.
Longe de ficar apenas na referência, o cineasta constrói a própria linguagem ao combinar o exagero das cores e das músicas a um confronto mais íntimo dos personagens centrais. Não à toa o confronto final vai de um tiroteio explosivo e cheio de mortes a um duelo silencioso e que leva os personagens aos prantos. Isso tudo porque Samuel tem um controle muito grande de como empregar o terror das ações e os elementos dramáticos dentro de uma lógica quase fantasiosa, o que vemos nas situações, na cidade colorida, nos pistoleiros implacáveis e na grandiosidade das ações.
O mesmo vale para a própria abordagem desses personagens negros que dominam a tela em um velho oeste ultrarracista. Se por um lado o diretor nos entrega a catarse escapista de ver esses racistas sendo baleados, por outro, não deixa de lado a diferença socioeconômica entre a cidade dos brancos e a cidade dos negros. Sem precisar recorrer a diálogos, vemos a primeira cheia de pompa, grandiosa e limpa, enquanto a segunda se destaca pelas cores, mas mais parece um cenário de filme hollywoodiano dos anos 50 tamanha a simplicidade.
“Vingança e Castigo” é então um bom primeiro passo na carreira de Samuel, que traz a sua carreira musical e realidade vivida consigo e as integram, ao melhor estilo blaxploitation, a um cinema histórico, mas de linguagem renovada.
Nota:
Assista a minha crítica em vídeo:
Assista ao trailer:
Ficha Técnica:
Título original: The Harder They Fall
Data de lançamento: 3 de novembro de 2021
Direção: Jeymes Samuel
Elenco: Jonathan Majors, Idris Elba, Zazie Beetz, Regina King, Lakeith Stanfield, Delroy Lindo
Gêneros: Faroeste
Nacionalidade: EUA