“Expresso do Amanhã” conta a história de uma sociedade pós-apocalíptica obrigada a viver em um trem que não pode parar nunca, já que tudo fora dele está em uma temperatura tão baixa que nenhum ser humano consegue sobreviver.
O melhor episódio da série
Do primeiro ao último plano, o oitavo episódio é o melhor da série até agora. Apesar dos problemas habituais de toda a temporada, como furos gigantescos de roteiro (o trem de 1001 vagões que é percorrido em uma velocidade que não faz qualquer sentido ou um personagem não sofrendo consequência alguma por ser desengavetado), o capítulo é muito mais rico do que os sete anteriores, parece até outra série.
Pela primeira vez a sequência de abertura tem uma função para a trama e não é apenas filosofia barata. Nela conhecemos melhor as motivações da Ruth, personagem que até então era totalmente unidimensional, mas agora começa a ganhar camadas. Ao mesmo tempo vemos Miles mostrando para LJ que o Sr. Wilford não existe (o que pode soar como uma grande facilitação narrativa, é verdade). A partir de então sabemos como a revolução e a deposição da Melanie estão interligadas, e o roteiro tem o cuidado de apresentar as pistas necessárias para entendermos os planos de ambos os grupos.
Em seguida, temos o primeiro plano-sequência da série capaz de mostrar a geografia do trem de uma forma que permita o espectador entender o ambiente, ainda que isso ocorra apenas em um lugar bem restrito. Destaque também para o plano longo em que Ruth é chamada no quarto dos Folgers. Ambos planos são capazes de criar uma rima simultânea entre a articulação dos dois lados.
Revolução
Depois de muito esperar, a revolução finalmente chega. E a série abraça por completo um lado mais exagerado que em alguns momentos beira o ridículo, mas que é coerente com o universo desenvolvido. Isso vai desde o discurso de Layton, quase uma caricatura de filmes como “Coração Valente” e “O Senhor dos Anéis: O Retorno do Rei”, passando pelas expressões dos atores durante a batalha, até chegar na cereja do bolo: o sangue gráfico tarantinesco.
Mas, por incrível que pareça, tudo isso funciona. São as melhores cenas de toda a temporada. Graças a boa mise-en-scène de Everardo Gout, somos capazes de compreender toda a carnificina que está acontecendo. A direção abraça um lado quase animalesco de um fundo desesperado por humanidade e somos capazes de ver os personagens se libertando ao tirar sangue dos seus oponentes.
É uma pena que a falta de construção dos personagens secundários do fundo tire o peso dramático das mortes na batalha. A cada vez que a câmera foca neles buscando causar pesar no público, o que ela consegue é apenas não gerar impacto algum. Até porque, como eu vou sentir algo por um personagem que eu não faço ideia de quem seja?
Crítica em vídeo:
Assista abaixo à crítica em vídeo que eu fiz sobre em meu canal, o 16mm.
Assista ao trailer:
Ficha Técnica:
Título original: Snowpiercer (Expresso do Amanhã)
Data de lançamento: 25 de maio de 2020
Elenco:Jennifer Connoly, Daveed Diggs mais
Gêneros: Ficção Científica, Ação
Nacionalidade: EUA