“The Boys” se passa em uma realidade onde super-heróis foram criados nos EUA e são grandes celebridades. Porém, eles não são tão bons quanto parecem e vão encontrar a resistência de um grupo secreto e desajustados, os The Boys.
As duas temporadas da série estão disponíveis na Amazon Prime Video.
Ainda mais política
“The Boys” não é e nunca foi uma série sobre super-heróis, mas sim uma análise da nossa sociedades e da política atual. Dessa forma, os heróis surgem apenas como uma atrativo para aqueles que são fãs do gênero, ao mesmo tempo que a obra os usa como uma metáfora para os poderosos (tanto políticos quanto pessoas com influência). Até a violência e o escapismo (que tem de sobra nas duas temporadas) muitas vezes vêm carregados de simbolismo.
E se o primeiro ano já satirizava a nossa sociedade, o segundo vai mais a fundo ainda em questões bastante espinhosas. As analogias ao atual governo norte-americano (e outros ao redor do mundo) são claras, tocando em pontos como armamentismo, a falsa ideia de segurança nacional, a divulgação consciente de fake news, manipulação, incitação do ódio e segregacionismo racial. Nesse sentido, a série não tem medo de sugerir que parte da sociedade americana e o seu atual presidente defendem ideias nazistas. Como diz Stormfront no último episódio, desde que não seja usada a palavra “nazismo” está tudo liberado.
Porém as críticas sociais e políticas não são as únicas temáticas sérias abordadas na segunda temporada. A relação de paternidade/maternidade sempre foi um tema presente, mas nesse segundo ano ele ganha o centro das atenções. Os problemas entre Starlight e a mãe se acirram, conhecemos um pouco mais sobre Butcher e seu pai e Homelander busca se aproximar de seu filho (ainda que muito mais por um narcisismo do que por realmente se importar com ele).
Personagens
Além da relevância social, a segunda temporada também demonstra bastante habilidade para evoluir o arco de seus personagens (talvez um dos maiores problemas do ano anterior). Maeve é obrigada assumir sua sexualidade publicamente, ao mesmo tempo que seu relacionamento com Elena fica cada vez mais difícil e a heroína finalmente volta a mostrar que não só se importa com o que é certo, mas também vai lutar para frear as insanidades de Homelander.
Este, por sua vez, é mais uma vez o que demonstra maior complexidade. Começa a temporada perdido pela ausência de Madelyn, encontra-se ao se unir (e ser controlado, mesmo que não saiba) a Stormfront, acredita estar fazendo bem ao filho ao tentar mostrar o mundo a ele, mas no fundo tudo que sente é a vontade de ver Ryan ser tão poderoso quanto ele. E esse é o mesmo objetivo de Stormfront, ainda que com fins diferentes, o de dominação nazista, já que essa personagem (uma grande adição à serie, por sinal) é o mal encarnado, mas o seu sarcasmo e suas motivações obscuras a tornam super interessante.
Butcher é outro a ter um arco bem completo no segundo ano. A sua redenção em nenhum momento soa forçada, principalmente porque ele segue sendo um anti-herói, somente mostrou que ainda há bondade ali dentro. Esquecidos durante boa parte da temporada, Kimiko e Frenchie finalmente encontraram uma conexão no último episódio. O mesmo ocorre com Hughie e Starlight, após várias idas e vindas.
Até mesmo Facho de luz, com pouco tempo de cena, é capaz de desenvolver um personagem dramaticamente interessante. Assim como também é legal de ver a evolução de A-Train e Deep, dois personagens sem redenção e que se unem a uma igreja (referência clara a cientologia) para buscar sua volta aos sete. E, para fechar, temos o misterioso Black Noir com uma participação bem mais digna do que no primeiro ano.
Entretenimento e cabeças explodindo
Mas é claro que não é só de temas sérios que sobrevive “The Boys”. Por ser uma sátira super exagerada, nada melhor do que muita violência e piadas de humor negro para completar a segunda temporada. Vale uma menção a função narrativa que o sangue tem aqui. Longe de ser aleatório, ele serve como uma crítica a normalidade da violência na sociedade em que vivemos.
Porém, claro que há também aqueles momentos que são justificados apenas por serem puro entretenimento. Cabeças explodindo, um barco entrando em uma baleia, surra em nazista e tudo mais que faz dessa temporada super marcante e empolgante.
O melhor de tudo, a temporada fecha todos os arcos abertos, mas deixa espaço para novos desdobramentos. O final otimista é só uma ilusão, a Voight continua sendo a Voight e o Homelander está mais pirado do que nunca.
Nota: 9.0
Assista ao trailer:
Ficha Técnica:
Título original: The Boys
Data de lançamento: Último episódio lançado em 09 de outubro de 2020
Elenco: Jack Quaid, Anthony Starr, Karl Urban mais
Gêneros: Ação, Comédia
Nacionalidade: EUA