“Ammonite” conta a história de um romance entre duas mulheres, na Inglaterra do século XIX. Uma delas é a famosa paleontóloga Mary Anning.
O filme não tem data de estreia no Brasil ainda.
Retrato de uma Jovem em Chamas 2.0?
“Ammonite” já surge carregando o peso da semelhança com o excelente e recente “Retrato de uma Jovem em Chamas”, filme francês lançado em 2019 e mundialmente premiado. E não é difícil perceber porque o longa foi comparado e até considerado por muitos como um remake americano da obra francesa. A começar que a distribuidora é a mesma Neon, mas principalmente por causa da premissa que traz duas jovens se conhecendo e se apaixonando no século XIX, em um romance escondido e ambientado em uma cidade costeira. Além disso, a construção dessa paixão é feita de forma minimalista, com poucos diálogos e foco muito grande em pequenos gestos e olhares.
Entretanto, apesar de poderem ser considerados como filmes gêmeos, “Ammonite” é capaz de seguir o próprio caminho e encontrar o seu valor, mesmo que nunca se aproxime da qualidade de seu irmão mais velho. Francis Lee, apesar de não ter a sensibilidade de Celine Sciamma, constrói um bom jogo visual e de antecipação, marcado por pequenas coisas, sejam gestos, objetos, olhares, sempre marcados por um plano detalhe que nos coloca dentro daquela realidade minimalista.
Assim, pela pouca quantidade de diálogos, a gente vê as emoções e a tensão sexual crescendo lentamente, quase sempre marcadas pelo belo trabalho sonoro e de cores. O mar ao fundo sempre sugere a emoção sentida em cada momento pelas personagens centrais, seja com a violência que aparece na primeira cena da praia, quando sozinha Mary Anning (Kate Winslet) tenta capturar uma grande pedra no topo de um monte, ou na calmaria de quando as amantes entram juntas na água pela primeira vez. O figurino e a fotografia também funcionam de forma semelhante, apesar de menos sutis. Ambas começam o filme com vestidos escuros e, aos poucos, suas roupas vão ganhando cor, assim como suas vidas. A praia e o céu, no início fotografados em tons cinzas e marrons, começam a adquirir um ar mais celestial quando o sol começa a se fazer presente na vida delas.
Assim, as personagens surgem quase como dominadoras do clima e das cores, manipuladoras do ambiente por meio de seus sentimentos, algo que contrasta com o pouco domínio que elas têm de suas vidas, já que acabam por ser dependentes de um mundo concebido e controlado por homens. Apesar do seu talento inigualável, Mary nunca teve o reconhecimento que merecia em seu trabalho, assim como Charlotte Hutchinson (Saoirse Ronan) não pode nem escolher o prato que vai comer quando na presença de seu marido. Dessa forma, ambas vivem aprisionadas por suas grades invisíveis, Mary a seu passado, a vida que não viveu e os irmãos que não teve. Já Charlotte, muito mais jovem, tem seus sonhos futuros relacionados aos bebês e a vida ao lado de seu marido que não deseja viver.
Então, Winslet, antissocial, atormentada pelo passado e constantemente desviando o olhar, encontra a infeliz, porém esperançosa, Ronan para assim dar sentido as vidas de suas personagens, em um romance carnal e libertador. E é justamente pela boa química entre personagens tão opostas que “Ammonite” funciona dramaticamente, pela credibilidade do amor passado por duas grandes atrizes que nos fazem esquecer por alguns minutos as estrelas que são. É uma pena que o final retorne a um clichê de filmes com personagens LGBT que parece nunca ser rompida.
“Ammonite” acaba por ser o irmão caçula de um dos grandes filmes dos últimos anos, o que talvez o faça cair no esquecimento, apesar de ser um bom trabalho sobre uma temática bastante relevante e que se relaciona inteiramente com os dias de hoje.
Nota: 7.0
Assista ao trailer:
Ficha Técnica:
Título original: Ammonite
Data de lançamento: Sem data de estreia no Brasil
Direção: Francis Lee
Elenco: Kate Winslet, Saoirse Ronan
Gêneros: Drama, Romance
Nacionalidade: Inglaterra