Em “Eu Me Importo” acompanhamos uma inescrupulosa curadora que se utiliza de sua posição para internar idosos em um asilo e ficar com o dinheiro deles. E isso só funciona graças a um esquema bem articulado e com muitos envolvidos.

O filme está disponível na Netflix.

Uma protagonista nada gostável

“Eu Me Importo” é um teste de empatia e de proximidade entre o público e uma protagonista sem escrúpulos e que não vê problema em se beneficiar acabando com a vida de idosos inocentes. Em contrapartida, a direção e o roteiro de J. Blakeson e a atuação da sempre excelente Rosamund Pike constroem uma Marla atraente, sempre vestida elegantemente, inteligente, independente e manipuladora. Fazendo assim com que o público não torça inteiramente por ela, mas consiga avançar em sua jornada.

E o fato da personagem não ser gostável, já que os seus atos não permitem isso, acaba jogando a favor de um filme que tem como objetivo criar um mundo particular dominado pelos poderosos detentores de quase todo o dinheiro e que não jogam limpo para enriquecer ainda mais os seus bolsos. Por isso, a cinematografia não busca em nenhum momento qualquer tipo de realismo, começando com uma luz estourada, que remete a um dia sempre ensolarado na vida da intocável Marla, até atingir tons mais neon quando a protagonista começa a perder o controle.

Da mesma forma, o roteiro não busca uma proximidade com o real, já que, por se tratar de uma sátira de humor negro, os exageros funcionam dentro desse mundo quase imaginário criado. Então, se o esquema já é absurdo por si só, quando a personagem vira quase uma 007 ou as trapalhadas dos mafiosos acabam nunca fugindo daquela proposta de mundo construída desde o início.

Critica Eu Me Importo Netflix 2

Blakeson é muito eficiente ao dar lugar apenas a personagens criminosos e poderosos, criando assim um universo bastante pessimista. Aqui pessoas comuns não tem lugar, mais do que isso, quando elas aparecem é para servirem como instrumento de manipulação dos poderosos. Assim, o filme se mostra muito mais interessado nesse jogo de poder entre Marla e Roman do que em criar qualquer tipo de redenção para a protagonista.

E tudo isso ganha ainda mais força quando percebemos que todo aquele mundo absurdo e irreal tem uma relação direto com o que vivemos. Como o poder e o dinheiro gera mais poder e dinheiro e menos preocupação para com o próximo. Mas a sutileza ao abordar o tema e o tom satírico meio mórbido acabam por fazer com que essa crítica já batida ganhe contornos mais interessantes.

Entretanto, tudo isso só funcionará com aqueles que comprarem toda a lógica pessimista de mundo e absurda proposta por Blakeson. Aqueles que buscarem qualquer tipo de realismo ou justiça nada terão para gostar aqui. De qualquer forma, goste você ou não da protagonista, “Eu Me Importo” atingirá seu objetivo, seja em seu texto ou em seu subtexto.

Nota: 7.0

Assista ao trailer:

Ficha Técnica:

Título original: I Care a Lot
Data de lançamento: 19 de fevereiro de 2021
Direção: J. Blakeson
Elenco: Rosamund Pike, Dianne Wiest, Peter Dinklage
Gêneros: Comédia, Thriller
Nacionalidade: EUA