“Um Príncipe em Nova York 2” acompanha o agora Rei Akeem, de Zamunda, e pai de três filhas, que volta ao Queens em busca de seu filho bastardo. Este deve ser o seu sucessor ao trono.
O filme está no Amazon Prime Video.
Referências, referências e só referências
“Um Príncipe em Nova York 2” é uma sucessão de escolhas sem sentido, desde a ideia do filme até sua execução, que ajudam a reforçar um dos piores problemas de Hollywood das últimas décadas: as referências como único artifício para se contar uma história. “Um Príncipe em Nova York” é uma das comédias mais icônicas dos anos 1980 e já seria esperado que sua sequência, 33 anos depois, resgataria muito da nostalgia do seu predecessor. E isso até funciona em certa medida com o resgate de praticamente todo o elenco original, ainda que quase todos fiquem sem qualquer função narrativa. Entretanto, o longa não tem nada para apresentar além disso e acaba se construindo a partir de uma série de esquetes sem graça, quase todas reciclando piadas do filme de 1988. Isso cria uma narrativa completamente desconexa e dependente de números musicais vazios para tentar manter algum ritmo.
Só que os problemas vão além disso. A começar pelo título, que sugere uma volta aos Estados Unidos, o que só ocorre nos primeiros minutos do longa. A premissa também não faz sentido, ainda mais quando percebemos que Akeem aceitou um filho como seu mesmo que sem nenhuma comprovação ou teste de paternidade. E então temos a transferência da história de NY para Zamunda, o que poderia ser interessante se o país não fosse retratado como um grande set de estúdio, unindo os piores clichês e preconceitos à cultura africana e tirando toda a vida que esse espaço deveria ter.
E o que poderia ser uma subversão acaba se tornando apenas um tiro no pé. Akeem já de início desrespeita toda a mensagem do filme original para se transformar em um personagem completamente diferente sob a desculpa clichê do “poder corrompe”, só para depois ver como mudou e voltar atrás em relação ao rumo que sua vida estava tomando, como já era esperado logo que o longa começa. Porém, tudo piora quando o seu filho Lavelle ganha protagonismo. Jermaine Fowler não tem carisma para segurar a história (ainda mais se comparado com o Eddie Murphy de 1988) e sofre com um roteiro incapaz de apresentar um problema real. A subversão do personagem que é um rei e fica pobre para encontrar o seu amor para o pobre que enriquece da noite para o dia simplesmente tira todas as barreiras possíveis do protagonista, forçando o filme assim a criar uma nova personagem para investir em um romance clichê. Além disso, surge o General Izzi (Wesley Snipes), que deveria ser uma ameaça, mas é só um bobão vencido facilmente em uma patética cena de ação.
Só que tudo isso poderia funcionar se o texto e a direção de Craig Brewer (diretor do ótimo “Meu Nome é Dolemite”) fossem capaz de criar humor. Porém, nem nesse aspecto o filme funciona e muito disso passa por uma escolha equivocada dos executivos da Paramount, que visavam lançar esse filme nos cinemas antes de vendê-lo para a Amazon e por isso mudaram a classificação indicativa do original (R, maiores de 17 anos) para PG13 (maiores de 13 anos) com o objetivo claro de atingir mais público além dos fãs do original. Só que tal escolha acaba comprometendo por completo o humor do filme, que na tentativa de ser familiar fica apenas boboca e exagerado.
No fim, “Um Príncipe em Nova York 2” surge como mais uma sequência desnecessária (piada que o próprio filme faz, rindo da cara do público) que não entende o seu precursor, tenta ser maior (é só ver a quantidade de personagens sem qualquer personalidade ou desenvolvimento) e tem a nostalgia barata como seu único artifício narrativo, empobrecendo a história, as piadas e os personagens. É, sem dúvida, a maior bomba que eu assisti nesse começo de 2021.
Nota: 3.0
Assista ao trailer:
Ficha Técnica:
Título original: Coming 2 America
Data de lançamento: 5 de março de 2021
Direção: Craig Brewer
Elenco: Eddie Murphy, Arsenio Hall, Wesley Snipes
Gêneros: Comédia
Nacionalidade: EUA