“Amor, Sublime Amor” acompanha o amor proibido entre Tony e Maria, cujos amigos e famílias fazem partes de gangues rivais que duelam pelo controle do bairro.
O filme está disponível nos cinemas.
Renovando o clássico
Em seu primeiro filme do gênero, Steven Spielberg faz de seu projeto de amor um musical à moda antiga.
Para muitos, “Amor, Sublime Amor” era um daqueles clássicos que não deveria ser tocado nunca mais. Um dos maiores vencedores da história do Oscar, com 11 prêmios, o longa teve um grande impacto no início da década de 1960 ao unir a magia do musical a uma visão social de “Romeu e Julieta”. Aqui, as famílias rivais davam lugar a um confronto entre gangues em um bairro de Nova York, sendo uma delas de imigrantes porto-riquenhos, comentando muito sobre a xenofobia e migração que balançam o país até hoje.
Apaixonado pelo original, Spielberg mostra que respeitar o clássico não significa necessariamente deixá-lo intocado. Pelo contrário, o cineasta olha para o passado, mantém quase todos os eventos da história, resgata a magia da época, mas a adapta para uma linguagem atual. E, nesse caso, há também um respeito maior pela origem dos personagens, já que no antigo havia a infame escolha de colocar a estrela Natalie Wood, estadunidense e filha de russos, cheia de maquiagem como protagonista porto-riquenha.
Então, assim como ocorreu com “Jogador Nº1”, até então o melhor filme do diretor nos últimos 15 anos, Spielberg encontra sua inspiração em um passado nostálgico e mágico, e não na história real, a qual ele vinha perdendo a mão no últimos anos, com filmes como “Lincoln”, “Cavalo de Guerra”, “Ponte dos Espiões”, “The Post”, entre outros.
Dessa forma, ele rejeita o realismo seletivo do cinema atual para abraçar a fantasia do musical, principalmente da época em que esse era um dos gêneros mais lucrativos de Hollywood. Vemos então personagens parando tudo para cantar no meio da rua, danças extremamente coreografadas e cheias de cores vivas no contraste entre figurinos e direção de arte, além de uma movimentação ao ritmo da música até mesmo nos momentos de luta mais violentos do longa. É um musical à antiga.
Portanto, como Maria e Tony, interpretados por Rachel Zegler e Ansel Elgort, vivem um amor impossível em meio a um mundo de violência que os cerca, Spielberg centra a magia da música e dança sem esquecer dos conflitos mais sociais, como a imigração e xenofobia. O bairro devastado vira palco para o amor e para a guerra, sem ignorar como é influenciado pelo capitalismo e mercado imobiliário, que suprime as duas gangues e as coloca para duelar.
Só que talvez o que mais impressione seja justamente como Spielberg adapta o clássico sem perder a essência e recorrendo uma linguagem mais moderna. Sem precisar recorrer tanto ao corte como simulação de movimento, o diretor decupa a cena dentro do próprio plano por meio da movimentação constante e coreografada dos personagens. Ao invés de nos direcionar o olhar em planos detalhe, ele permite ao espectador vivenciar toda aquela experiência do movimento e selecionar o que dali mais lhe interessa, fazendo do público uma pessoa menos passiva em relação àquele mundo.
Mas eu não poderia encerrar esse texto sem mencionar dois nomes: Ariana Debose e Rita Moreno. Se a segunda traça um elo entre presente e passado, criando uma das personagens mais emocionantes do longa, a primeira rouba a cena ao dançar e se expressar com força e energia. Junto a Zegler, as três renovam também a obra ao dar mais desenvolvimento e presença para as figuras femininas, que são a alma do filme de 2021.
Nota:
Assista a minha crítica em vídeo:
Assista ao trailer:
Ficha Técnica:
Título original: West Side Story
Data de lançamento: 9 de dezembro de 2021
Direção: Steven Spielberg
Elenco: Rachel Zegler, Ansel Elgort, Rita Moreno, Ariana Debose
Gêneros: Musical, Romance
Nacionalidade: EUA