“Being The Ricardos” acompanha Lucille Ball, a estrela da famosa sitcom “I Love Lucy”, ao ser acusada de ser comunista nos anos 1950. Além disso, ela tenta resolver a crise de seu casamento.
O filme está disponível na Amazon Prime Video.
A falta que faz um bom diretor
“Being The Ricardos” é um filme cheio de boas ideias, mas incapaz de executar aquilo que o roteiro pede, já que Aaron Sorkin parece mais preocupado em se valorizar como roteirista do que em sujar as mãos como diretor.
A grande aposta da Amazon para o Oscar 2022 é um daqueles filmes que vai agradar muita gente pela história real interessante e pelas ótimas atuações. Para grande parte do público isso bastará sem perceber que o longa poderia ser muito mais do que realmente é.
Sorkin já se provou há muito tempo como um dos grandes roteiristas de Hollywood. Dono de texto denso e ágil, o cineasta é capaz de criar tensão com as palavras e manter um ritmo sempre engajante. Ou pelo menos era assim quando diretores talentosos levavam o seu texto às telas.
Aqui fica claro o papel do diretor, sobretudo nas escolhas sobre como lidar com a linguagem cinematográfica. Como transformar o roteiro em filme, como trabalhar a montagem como ritmo e tom, o construir uma cena visual e sonoramente, entre muitas outras escolhas que fazem parte da função de um bom diretor. Um bom filme até pode existir de um bom roteiro e boas atuações, mas um filme marcante só ganha vida com uma ótima direção.
Então, se David Fincher fazia de “A Rede Social” quase um thriller claustrofóbico ou Danny Boyle desestilizava os diálogos de “Steve Jobs” com uma visão mais sóbria, em “Being The Ricardos” vemos Sorkin recorrer aos mesmos erros de seus longas anteriores. Sem a visão criativa de outro para moldar o seu texto, o diretor romantiza tudo esteticamente, dá ênfase às frases de efeito e, sobretudo, é incapaz de criar tensão com enquadramentos e montagem, o que seu roteiro pedia fortemente.
Dessa forma, apesar de uma história que borbulha desconforto com uma protagonista prestes a um colapso nervoso, correndo o risco de ir do posto de queridinha dos Estados Unidos à traidora da nação, ao mesmo tempo em que seu casamento pode acabar a qualquer momento, Sorkin prefere construir uma mise en scène super genérica, com uma decupagem que recorre a planos básicos da cartilha do filme oscar bait baseado em fatos reais. É quase como se o diretor tentasse resolver toda a tensão apenas pelo roteiro e colocando falas de desespero na boca das personagens. Simplesmente não funciona.
Mas os problemas da direção vão além disso, já que Sorkin é incapaz de dar coesão a sua gama de eventos, parecendo vários filmes em um, no mal sentido. Ficamos então saltando das acusações à Lucille, para seu drama matrimonial, depois às escolhas criativas para a produção de uma série de tv (melhor parte do filme) e, por fim, para flashbacks explicativos, sem que nunca a montagem seja capaz de integrar esses quatro pilares em uma narrativa só. É como se Sorkin não soubesse realmente sobre o que é seu próprio filme e ficasse atirando para vários lados.
O mesmo ocorre nos poucos momentos em que o cineasta tenta trazer alguma escolha diferente de linguagem, como no uso de um semidocumental, ao colocar atores mais velhos para falar com a câmera sobre aqueles eventos se passando pelos personagens mais jovens, o que apenas cria um ruído e demonstra a inabilidade de Sorkin de lidar com os eventos de forma direta e sensorial.
Assim, “Being The Ricardos” deixa o gosto amargo da decepção ao apresentar o texto competente sobre uma história interessantíssima, duas grandes atuações centrais, mas uma direção incapaz de usar a linguagem cinematográfica além do óbvio.
Nota:
Assista a minha crítica em vídeo:
Assista ao trailer:
Ficha Técnica:
Título original: Being The Ricardos
Data de lançamento: 21 de dezembro de 2021
Direção: Aaron Sorkin
Elenco: Nicole Kidman, Javier Bardem, JK Simmons
Gêneros: Drama
Nacionalidade: EUA