“Vida Selvagem” conta a história de uma família em crise que acabara de se mudar para uma cidade do interior e luta para sobreviver após o pai perder o emprego.

Uma boa estreia

“Vida Selvagem” é mais um dos filmes lançados em festivais que tem sucesso em premiações independentes e com a crítica internacional, mas não chega aos cinemas brasileiros. O longa estreou no Festival de Sundance, em 2018, e posteriormente foi exibido em Cannes, no mesmo ano. Além disso, a obra recebeu três indicações no Independent Spirit Awards, principal premiação do cinema independente, incluindo Melhor Atriz e Melhor Primeiro Filme (de um diretor). Dois anos depois, a obra chegou ao HBO GO e finalmente pode ser conferida legalmente pelos brasileiros.

Um dos bons atores de sua geração, Paul Dano estreia aqui na direção e demonstra bastante controle narrativo e estético para um cineasta de primeira viagem. Apesar de imperfeito, o longa consegue construir sua unidade por meio de escolhas consistentes de tom, cores, enquadramentos e desenvolvimento da história.

De certa forma, o filme conversa bastante com o que eu falei na minha crítica recente de “First Cow”, mesmo se passando em épocas e contextos bem diferentes. Ambos conseguem retratar de forma sutil como a vida cotidiana pode ser opressora e hostil. Enquanto lá a busca pelo dinheiro faz com que o protagonista encontre uma parceria, aqui, esta ajuda a acentuar uma crise familiar.

vida selvagem 2

Personagens

É interessante como cada um dos personagens são moldados por essa sociedade capitalista, mas reagem de formas diferentes a ela. O pai, interpretado pelo sempre excelente Jake Gyllenhaal, não consegue se adaptar e nem se relacionar com essa sociedade e escolhe fugir da realidade ao invés de enfrentá-la. A mãe, Carey Mulligan em uma das melhores atuações da carreira, encontra nessa situação uma possibilidade de busca por libertação pessoal e profissional. Enquanto isso, o filho, Ed Oxenboud, é obrigado a crescer rápido demais a fim de tentar estabilizar uma situação que já desmoronou há muito tempo. Todavia, ao tentar ajudar a manter a casa, acaba perdendo o direito de viver a sua infância.

Mas não importa o quanto esses personagens tentem, eles nunca conseguirão se livrar da dor e do sofrimento criados por esse local hostil. Como o título do longa e uso constante de cores frias e lavadas, sobretudo o verde e o azul, já sugerem, é uma vida selvagem. É uma família impossibilitada de viver junta desde muito antes do pai sair de casa. Desde a primeira vez em que aparecem sentados à mesa, os pais estão em cantos opostos, afastados no plano e tendo seu filho no centro preenchendo aquele vazio (plano que cria uma bela rima com a foto tirada na última cena do epílogo).

Além disso, vemos como a comunicação entre eles não é simples. Há muito sentimento escondido nos longos e desconfortáveis silêncios que ganham destaque até nos diálogos mais banais. As câmeras estáticas e os enquadramentos de fora dos cômodos (que faz com que nos sintamos espionando aquelas situações) ajudam a reforçar esse desconforto na calmaria. A narrativa se desenvolve sem nenhuma pressa e usa pequenos momentos como pontos de virada, deixando o único grande momento de explosão para o clímax do longa, quando todos os personagens chegam ao limite e precisam colocar aquele sentimento para fora de alguma forma.

É bem verdade que “Vida Selvagem” não é um filme fácil e em alguns momentos parece dar voltas sem sair do lugar. Mas, no geral, é uma boa estreia na direção para Dano, que demonstra uma sensibilidade gigante ao explorar a vida cotidiana.

Nota: 7.5

Assista ao trailer:

Ficha Técnica:

Título original: Wildlife (Vida Selvagem)
Data de lançamento: Não estreou no Brasil
Direção: Paul Dano
Elenco: Ed Oxenboud, Carey Mulligan, Jake Gyllenhaal mais
Gêneros: Drama, Indie
Nacionalidade: EUA