Geralmente, o BAFTA, também conhecido como “Oscar Britânico”, é considerado um dos melhores termômetros para o Oscar. Isso porque boa parte dos votantes também fazem parte do prêmio da Academia. É bem comum até que a premiação apresente alguma novidade da temporada que volta a se repetir no Oscar, como a indicação de Paweł Pawlikowski a Melhor Diretor, pelo polonês “Guerra Fria”, algo que nem o Sindicato dos Diretores (DGA) havia previsto.
Porém, a premiação britânica vem sendo criticada há anos por valorizar apenas filmes de grandes estúdios e com bastante investimento para campanhas de divulgação, além de indicar apenas diretores homens e pouquíssimos atores e atrizes negros, asiáticos, latinos e das demais minorias. Por isso, a academia britânica decidiu fazer uma grande reformulação no processo de votação, criando uma série de pré-listas, sempre com indicações de um comitê para valorizar filmes de menor orçamento e a representatividade. A partir daí, os votantes deveriam comprovar que viram todos os indicados antes de fazer o seu voto final (era muito comum que os votantes assistissem apenas os filmes reconhecidos em premiações anteriores e com forte campanha).
E a diferença, que não seria exagero chamar de revolução, já apareceu logo no primeiro ano desde a mudança. Filmes independentes de baixo orçamento, estrangeiros, atores e atrizes negros ou asiáticos e diretoras finalmente tiveram espaço na premiação. Mais do que isso, o BAFTA se desgruda por completo da pressão de ser um “termômetro” para a temporada e cria uma premiação totalmente própria e independente das demais.
Isso fica claro com as sete indicações de “Rocks” (maior indicado do ano ao lado de “Nomadland”) e as quatro de “Calm with Horses”, ambos filmes britânicos de baixo orçamento e que não apareceram em nenhuma premiação americana da temporada. Além disso, pela primeira vez há mais diretoras do que diretores (sendo uma chinesa, uma bósnia, um dinamarquês e um filho de sul-coreanos) e mais atores e atrizes negros, asiáticos, africanos e nascidos no leste europeus do que americanos ou britânicos e brancos.
Continua sendo um indicativo ao Oscar?
Com essa grande mudança, algo que deveria acontecer nas demais premiações para limitar o poder das campanhas de divulgação e prezar mais pela qualidade fílmica, colocando distribuidoras menores para competir em maior igualdade com os grandes estúdios, o BAFTA deixa de ser um indicativo para o Oscar. Apesar das aparições de “Nomadland”, “Bela Vingança”, “Meu Pai” e “Os 7 de Chicago” para Melhor Filme, o que deve se repetir no Oscar, menos de 20% dos indicados em categorias principais (Filme, Diretor, Atuação e Roteiro) aparecerão no prêmio de Los Angeles.
Para efeito de comparação, Aaron Sorkin (“Os 7 de Chicago”) e David Fincher (“Mank”) ficaram fora em direção, Carey Mulligan (“Bela Vingança”), Viola Davis (“A Voz Suprema do Blues”), Gary Oldman (“Mank”), Glenn Close (“Era Uma Vez um Sonho”), Olivia Colman (“Meu Pai”) e Sacha Baron Cohen (“Os 7 de Chicago”) em atuação e “Minari”, “A Voz Suprema do Blues” e “Relatos do Mundo” nas categorias de roteiro. Isso só para citar alguns do nomes que estão praticamente garantidos na disputa do Oscar. Talvez o BAFTA 2021 ainda sirva como um termômetro em algumas categorias técnicas, como Som e Montagem, mas não deve ir muito além disso.
Então, mais do que nunca, os prêmios dos sindicatos vão servir como os grandes indicativos para o Oscar 2021. Para quem acompanha todas as premiações apenas como prévias do Oscar, talvez o BAFTA perca relevância. Por outro lado, a premiação surge como uma importante nova vertente na busca por um cinema mais plural e é capaz de nos apresentar bons filmes independentes que poderiam ficar esquecidos.
Veja a lista completa de indicados ao BAFTA 2021:
Melhor filme
- “Meu pai”
- “The Mauritanian”
- “Nomadland”
- “Bela vingança”
- “Os 7 de Chicago”
Melhor diretor
- “Druk – Mais uma Rodada” – Thomas Vinterberg
- “Babyteeth” – Shannon Murphy
- “Minari” – Lee Isaac Chung
- “Nomadland” – Chloé Zhao
- “Quo Vadis, Aida?” – Jasmila Žbanić
- “Rocks” – Sarah Gavron
Melhor atriz
- Vanessa Kirby – “Pieces of a Woman”
- Frances McDormand – “Nomadland”
- Bukky Bakray – “Rocks”
- Radha Blank – “The Forty-Year-Old Version”
- Wuhmi Mosaku – “O que Ficou para Trás”
- Alfre Woodard – “Clemency”
Melhor ator
- Riz Ahmed – “O Som do Silêncio”
- Chadwick Boseman – “A Voz Suprema do Blues”
- Anthony Hopkins – “Meu Pai”
- Tahar Rahim – “The Mauritanian”
- Adarsh Gourav – “O Tigre Branco”
- Mads Mikkelsen – “Druk – Mais uma Rodada”
Melhor atriz coadjuvante
- Maria Bakalova – “Borat: Fita de Cinema Seguinte”
- Youn Yuh-jung – “Minari”
- Niamh Algar – “Calm with Horses”
- Kosar Ali – “Rocks”
- Ashley Madekwe – “County Lines”
- Dominique Fishback – “Judas e o Messias negro”
Melhor ator coadjuvante
- Daniel Kaluuya – “Judas e o Messias Negro”
- Barry Keoghan – “Calm with Houses”
- Alan Kim – “Minari”
- Leslie Odom Jr. – “Uma Noite em Miami”
- Clarke Peters – “Destacamento Blood”
- Paul Raci – “O Som do Silêncio”
Melhor roteiro original
- “Druk – Mais uma Rodada” – Tobias Lindholm, Thomas Vinterberg
- “Mank” – Jack Fincher
- “Bela vingança” – Emerald Fennell
- “Rocks” – Theresa Ikoko, Claire Wilson
- “Os 7 de Chicago” – Aaron Sorkin
Melhor roteiro adaptado
- “The Dig” – Moira Buffini
- “Meu pai” – Christopher Hampton, Florian Zeller
- “The Mauritanian” – Rory Haines, Sohrab Noshirvani, M.B. Traven
- “Nomadland” – Chloé Zhao
- “O tigre branco” – Ramin Bahrani
Melhor elenco
- “Judas e o Messias Negro”
- “Calm with Horses”
- “Minari”
- “Bela Vingança”
- “Rocks”
Melhor filme britânico
- “Calm with horses”
- “Meu pai”
- “The dig”
- “O que Ficou para Trás”
- “Limbo”
- “The mauritanian”
- “Mogul Mowgli”
- “Bela vingança”
- “Rocks”
- “Saint maud”
Melhor filme de língua não inglesa
- “Druk – Mais uma Rodada” – Thomas Vinterberg, Sisse Graum Jørgensen
- “Dear Comrades!” – Andrei Konchalovsky, Alisher Usmanov
- “Les Misérables” – Ladj Ly
- “Minari” – Lee Isaac Chung, Christina Oh
- “Quo Vadis, Aida?” – Jasmila Žbanić, Damir Ibrahimovich
Melhor animação
- “Dois irmãos”
- “Soul”
- “Wolfwalkers”
Melhor documentário
- “Collective”
- “David Attenborough e Nosso Planeta”
- “The Dissident”
- “Professor Polvo”
- “O Dilema das Redes”
Melhor animação
- “Soul”
- “Os Irmãos Willoughby”
- “Wolfwalkers”
Melhor trilha sonora
- “Mank”
- “Minari”
- “Relatos do Mundo”
- “Bela Vingança”
- “Soul”
Melhor fotografia
- “Mank”
- “Relatos do Mundo”
- “Nomadland”
- “The Mauritanian”
- “Judas e o Messias Negro”
Melhor montagem
- “Meu Pai”
- “Nomadland”
- “Bela Vingança”
- “O Som do Silêncio”
- “Os 7 de Chicago”
Melhor design de produção
- “A Escavação”
- “Meu Pai”
- “Mank”
- “Rebecca – A Mulher Inesquecível”
- “Relatos do Mundo”
Melhor figurino
- “Ammonite”
- “A Escavação”
- “Emma”
- “A Voz Suprema do Blues”
- “Mank”
Melhor cabelo e maquiagem
- “Era uma Vez um Sonho”
- “A Voz Suprema do Blues”
- “A Escavação”
- “Pinóquio”
- “Mank”
Melhor som
- “Greyhound”
- “Nomadland”
- “Relatos do Mundo”
- “O Som do Silêncio”
- “Soul”
Melhores efeitos especiais
- “Greyhound”
- “Mulan”
- “O Céu da Meia-Noite”
- “O Grande Ivan”
- “Tenet”
Melhor curta britânico em animação
- “The Fire Next Time”
- “The Owl and the Pussycat”
- “The Song of a Lost Boy”
Melhor curta britânico
- “Eyelash”
- “Lucky Break”
- “Lizard”
- “Miss Curvy”
- “The Present”
Melhor estreia de um roteirista, diretor ou produtor britânico
- “His House”
- “Moffie”
- “Limbo”
- “Rocks”
- “Saint Maud”