“A Menina Que Matou os Pais” segue os eventos dos autos do processo de Suzane Von Richthofen e dos irmãos Cravinhos sob o olhar de Daniel, um dos irmãos assassinos.
O filme está disponível no Amazon Prime Video.
Refém do projeto
Apesar de ser um projeto duplo que pede uma análise dos dois filmes, decidi dividir minha crítica em duas, já que, apesar da história ser praticamente a mesma, há uma grande discrepância de qualidade entre as duas obras (mesmo que nenhuma seja boa).
A verdade é que ambos filmes são reféns do projeto maior, a união entre visões distintas, ao mesmo tempo que sofrem na mão de uma direção que tenta transformar as obras em “populares” a qualquer custo, sacrificando assim qualquer aprofundamento ou naturalidade das ações em prol de uma “novelização” estética e textual. E isso não sou eu quem estou falando, foi o próprio Maurício Eça que declarou ano passado que as obras não seriam “filmes-cabeça”, mas sim “populares”, criando aquela estúpida separação que só serve ao público menos inteligente.
Porém, antes de tudo, é necessário lembrar que a ideia inicial era lançar os filmes em sequência nos cinemas, o que só não ocorreu por causa da pandemia. Ao serem vendidos para a Amazon, possibilitou ao público assistir quando e na ordem que quiser. Mas, o mesmo não ocorreria inicialmente, e, por isso, a produção achou necessário enxugar ao máximo as obras, pois, assim mesmo, os dois filmes juntos têm mais de 2h40. Mais do que isso impossibilitaria a exibição nos cinemas.
O problema é que o projeto nunca justifica sua separação. Pelo contrário, isso só demonstra uma falta de habilidade dos roteiristas de mostrar dois pontos de vista em uma única obra. Ou pode ser também (o que acredito ser o mais provável) uma escolha de marketing, já que um filme dois em um é bem menos usual e poderia despertar a curiosidade no público.
Dito isso, “A Menina Que Matou os Pais” se mostra como o mais fraco dos dois filmes, sobretudo por seu uso pobre da linguagem cinematográfica. Isso porque a montagem truncada nunca permite uma fluidez narrativa, nada apresenta causa e consequência, tudo ocorre pelo simples fato de estar nos autos.
Com isso, somos jogados a várias cenas perdidas, com passagens de tempo entre elas, apenas para relatar eventos teoricamente mais importantes. É o bom e velho filme-relato, que até funciona como um recorte de uma visão histórica, mas definitivamente não consegue se resolver dentro de si mesmo.
Mas, se não bastasse a falta de continuidade narrativa, Eça apresenta grande dificuldade em conseguir qualquer impacto dramático por meio da encenação nesse filme. A começar pela escolha, que nunca se justifica, de filmar os personagens de frente para a câmera, como acontecia nos primórdios do cinema por influência do teatro, escolha essa que torna as cenas ainda mais artificiais (como quando todos os cinco personagens sentam espremidos do mesmo lado da mesa para almoçar).
Entretanto, o grande problema é mesmo que o diretor está apenas interessado em inserir a história em tela, mas não em como retratá-la. Ficamos presos então a situações dignas de “Malhação”, desde o diálogos até as interpretações, e nada recebe o seu devido peso. Talvez o ápice disso seja o que deveria ser o clímax do filme, o assassinato, que é filmado como um mero protocolo, ignorando qualquer possibilidade mais interessante de se adentrar na psicologia do personagem ou no caos que a cena pretendia passar.
Dessa forma, ao invés de construir personagens, a proposta inicial do projeto, o filme apenas relata situações já conhecidas sobre um dos casos mais famosos da nossa história recente. Vale mais a pena ler os autos e ver as reportagens da época.
Nota:
Assista a minha crítica em vídeo:
Assista ao trailer:
Ficha Técnica:
Título original: A Menina Que Matou os Pais
Data de lançamento: 24 de setembro de 2021
Direção: Maurício Eça
Elenco: Carla Diaz, Leonardo Bittencourt, Kauan Ceglio
Gêneros: Drama, Suspense
Nacionalidade: Brasil