“A Voz Suprema dos Blues” se passa em uma tarde e acompanha Ma Rainey e sua banda ensaiando e gravando um álbum, em meio a muitos conflitos.
O filme está disponível na Netflix.
Teatro filmado
É impossível assistir a “A Voz Suprema do Blues” e não se emocionar com a bela e última atuação de Chadwick Boseman. O ator, que nos deixou em 2020, entrega o melhor trabalho de sua carreira ao transitar entre diferentes emoções e ao esconder o seu passado por meio de um sarcasmo de autodefesa. A gente sente que algo o atormenta e que ele busca um futuro melhor. É ele quem sustenta o filme, até mesmo formalmente, já que os momentos mais impactantes do longa sempre retornam ao personagem de Chadwick.
Além dele, Viola Davis também se destaca ao fazer um mulher a frente de seu tempo e capaz de dominar todos a sua volta. Infelizmente, a atriz não recebe a mesma atenção do roteiro do que Chadwick e sua personagem mal tem um arco de desenvolvimento. Na verdade, o único que tem qualquer desenvolvimento é mesmo Levee. E se comecei essa crítica pelas atuações, algo que não costumo fazer, é muito porque elas são as responsáveis por fazer “A Voz Suprema do Blues” funcionar de alguma forma.
Acho curioso como o teatro voltou a ser tão presente no cinema em 2020, sobretudo com a Netflix. Se “The Boys in the Band” funciona bem nessa lógica teatral do espaço, “Os 7 de Chicago” utiliza de elementos do teatro para construir um jogo de tribunal e “Hamilton” segue sendo uma peça, “A Voz Suprema do Blues” surge como o exemplar mais fraco do ano.
Todos os elementos teatrais estão que aqui presente: iluminação, mise en scène, texto rápido, movimentação dos atores em cena e, sobretudo, os monólogos. Só que o roteiro de Ruben Santiago-Hudson não é capaz de desenvolver os temas e personagens e a direção de George C. Wolfe não consegue fazer uma adaptação da linguagem dos palcos para o cinema, algo que foi bem melhor executado em adaptações como o já citado “The Boys in the Band” e o ótimo “Um Limite Entre Nós”.
Assim, o filme fala sobre a migração dos negros nos EUA na década de 1920, as relações raciais em Chicago, homofobia, racismo, confronto do velho com o novo, da arte pessoal contra a arte pensada para vender, entre muitos outros temas. Entretanto, nenhum deles é realmente desenvolvido a fundo e a obra fica com uma impressão de inacabada.
Como os personagens, tudo é aberto, mas nada é realmente concluído. Parte disso é resultado do pouco tempo de rodagem, parte é um apego grande a obra original. Só que, infelizmente, o bom texto e as ótimas interpretações não encontram o mesmo impacto no cinema. No final, “A Voz Suprema do Blues” acaba por ser mais um daqueles chamados “filmes de atuação”, também conhecidos como obras falhas e que necessitam das interpretações para funcionar minimamente.
Nota: 6.5
Assista ao trailer:
Ficha Técnica:
Título original: Ma Rainey’s Black Bottom
Data de lançamento: 18 de dezembro de 2020
Direção: George C. Wolfe
Elenco: James Corden, Meryl Streep, Jo Ellen Pellman, Nicole Kidman
Gêneros: Drama, Baseado em Fatos Reais
Nacionalidade: EUA