“Army of The Dead” acompanha um grupo montado para entrar em Las Vegas, dominada por zumbis, e roubar o dinheiro no cofre de um cassino.

O filme está disponível no catálogo da Netflix.

Rejeitando convenções

Para o bem ou para o mal, as redes sociais criam cada vez mais uma grande rede de discussão de filmes e séries. Por um lado, isso torna as pessoas mais atentas aos filmes e, em certa medida, mais críticas também. Por outro, criam-se cada vez mais vícios (em parte reforçados por vários críticos de sites e YouTube) ao se analisar filmes seguindo uma espécie de cartilha, como se algumas regras funcionassem para todas as obras ou sempre focando em alguns elementos, como fotografia, montagem e atuação, para determinar se um filme é bom ou não (como se isso fosse tão simples e certo assim). E, dentre todas essas ideias discutidas pelo público (ainda que inconscientemente) e reforçada pelos grandes blockbusters hollywoodianos, a mais prejudicial é a suposta busca pelo realismo. Ou seja, um filme deveria ter as mesmas regras lógicas da vida real e o uso da computação gráfica ou as atuações também devem parecer reais.

Entretanto, longe de se aproximar do conceito clássico do realismo no cinema, amplamente defendido por André Bazin e outros críticos da Cahiers du Cinema, o que vemos agora é uma falsa noção de realismo, um realismo de certa forma seletivo e que trata diferentes obras de distintos gêneros com os mesmo conceitos. Um exemplo recente que me vem à memória é do filme “Passageiro Acidental”, filme amplamente criticado pelo público porque supostamente não segue as regras astrofísicas ou de missões da NASA (o que passa um pouco por essa falsa sensação de todo mundo achar que é especialista em tudo). Não, um filme não funciona de acordo com as regras do mundo real e sim com as de seu próprio universo.

Por isso, o que mais me agrada em “Army of The Dead”, novo filme da Netflix dirigido por Zack Snyder (diretor que não sou grande fã), é esse descompromisso quase que completo com essa realidade lógica que parece ser pré-requisito para os filmes atuais. Snyder pouco se importa se pessoas reais agiriam daquela forma em tal situação ou se alguém que nunca pegou uma arma na vida acertaria vários tiros na cabeça dos zumbis. Ele está muito mais preocupado em rejeitar essas amarras impostas pelos blockbusters atuais, ainda que o seu cinema (e esse filme não é diferente) abrace um certo exagero em prol do “entretenimento”.

Critica Army of The Dead Netflix

Mas não é apenas esse falso realismo que Snyder joga fora, ele também pouco se importa com outras dessas “regras”, como a necessidade dos blockbusters de serem ágeis e com personagens complexos (ou que pareçam complexos). Até a própria expectativa de um “filme do Snyder” é rejeitada por ele mesmo, ao parecer muito mais contido nos próprios exageros, utilizando as músicas pop ou a câmera lenta apenas em momentos pontuais. Longe de se reinventar por completo, Snyder simplesmente encontra na Netflix a parceira perfeita para ele colocar sua visão e suas breguices na medida que quiser e com a duração que desejar. Sem amarras, Snyder é Snyder mesmo não sendo o Snyder que muita gente esperava.

Assim, os personagens viram apenas pontos funcionais da trama, menos interessantes até do que os zumbis, ainda que a insistência nessa relação genérica entre pai e filha jogue contra nesse sentido, e o humor é muito mais uma consequência do descompromisso do que uma necessidade para tornar o filme “divertido”. Nesse sentido, deve ser o filme menos “legalzinho” que o diretor já fez, mas ele pouco se importa com isso.

É bem verdade que o filme poderia funcionar melhor se tivessem diálogos decentes, personagens mais interessantes, uma história contada sem tantos núcleos e com uma força maior no grupo. Mas talvez tais elementos tirariam esse charme brega e descompromissado que faz de “Army of the Dead” uma aventura ultrapassada e autoral, simplória e renovadora, em alguns momentos cansativa, em outros estupidamente divertida. Está longe de ser perfeito, mas é, sem dúvida, o melhor filme do diretor em anos.

Nota: 7.0

Assista a minha crítica em vídeo:

Assista ao trailer:

Ficha Técnica:

Título original: Army of the Dead
Data de lançamento: 21 de maio de 2021
Direção: Zack Snyder
Elenco: Dave Bautista
Gêneros: Zumbi, Ação
Nacionalidade: EUA