Baseado em uma série de livros de sucesso, “Artemis Fowl: O Mundo Secreto” conta a história de um jovem inteligente que conhece um mundo mágico com fadas, anões e orcs.
Ruim como adaptação, pior ainda como filme
“Artemis Fowl: O Mundo Secreto” é um daqueles filmes que nem merece uma crítica muito elaborada, já que é uma obra que apela para o genérico em todos os aspectos cinematográficos. Porém, é um longa que representa bastante o processo criativo (ou a falta dele) na Disney atual. E quando digo isso estou me restringindo apenas à Disney e não aos estúdios adquiridos por ela, como Marvel, Fox, Pixar, já que esses apresentam um certo nível de autonomia.
O filme em si é uma série de escolhas genéricas em uma história que mistura a jornada do escolhido com a criação de um mundo escondido atualizando criaturas clássicas como elfos, fadas, anões, entre outros. Entretanto, ao invés de focar no público que já conhece e gosta dos livros, o longa opta pelo caminho mais fácil: uma narrativa extremamente simplória e infantil.
O mundo secreto não tem qualquer charme e nem consegue ser minimamente crível, já que até seu escopo é muito pequeno para algo que deveria ser fantástico. Os personagens ficam entre a vergonha alheia e o desenvolvimento inexistente, não há um capaz de despertar empatia no público. E as sequências de ação que poderiam ser o mais atrativo da obra são prejudicadas pela falta de construção dramática e pelo péssimo CGI, algo inaceitável em se tratando da Disney e do orçamento elevado do filme.
Dessa forma, o longa desagrada tanto aos fãs dos livros quanto a quem não conhecia a história. E, mais uma vez, Kenneth Branagh não consegue lidar com um filme da Disney (agora falo em sentido amplo, pois ele também fez filme na Marvel). Porém, nesse caso, o bom diretor parece ter sofrido na mão de interferências do estúdio, visto que muitas cenas do trailer não aparecem no longa.
A Disney atual
Então, voltamos ao ponto inicial: a Disney atual. O maior estúdio da atualidade e que ficou extremamente popular justamente por trazer belas histórias ao longo de suas décadas de existência é hoje o responsável pelo oposto. Nenhuma produtora e distribuidora investe em tão poucos projetos originais quanto a Disney. Ela é sem dúvida um belo exemplar do que é para mim um dos maiores problemas criativos da Hollywood atual.
É bem verdade que desde a década de 1980 os estúdios dão muito mais espaço às obras populares do que para filmes autorais. E os remakes e franquias também estão longe de ser uma novidade deste século. Entretanto, nunca se viu anteriormente uma concentração tão grande dessas obras e um incentivo ainda maior pela manutenção dessa prática. Hoje, um produtor é estimulado a ter ideias para uma franquia ou um remake, mas é desencorajado a bancar ideias novas, já que se o primeiro der errado não haverá grandes implicações, ele pelo menos tentou “a coisa certa” ou “o que dá dinheiro” sob o ponto de vista dos estúdios. Porém, se ele insistir em uma obra original e falhar, sua carreira tende a ser destruída junto.
Não à toa todos os últimos filmes da Disney são remakes em live-action de animações clássicas (ou em uma animação mais realista, como é o caso de “Rei Leão”), sequências de animações bem sucedidas (como “Frozen” e “Detona Ralph”) ou conteúdo para crianças de no máximo oito anos de idade (aqui entram “Uma Dobra no Tempo”, “Artemis Fowl”, entre outros). Ou seja, aposta na nostalgia ou em um público com menor senso crítico pela pouca vivência audiovisual. Não há espaço para o novo e nem para a diversificação de ideias. É a arte tratada como mercadoria em sua forma mais extrema. Essa é a Disney atual.
Nota: 2.0
Crítica em vídeo:
Assista abaixo à crítica em vídeo que eu fiz sobre o longa em meu canal, o 16mm.
Assista ao trailer:
Ficha Técnica:
Título original: Artemis Fowl (Artemis Fowl: O Mundo Secreto)
Data de lançamento: 29 de maio de 2020 (1h 35min)
Direção: Kenneth Branagh
Elenco: Ferdia Shaw, Judi Dench, Josh Gad mais
Gêneros: Aventura, Infanto Juvenil
Nacionalidade: EUA