“Má Educação” conta uma história real sobre o maior escândalo de corrupção e apropriação indébita de fundos de escolas públicas na história dos Estados Unidos.

Protagonista atraente

“Má Educação” estreou no festival de Toronto em 2019 com o objetivo de participar da temporada de premiações, porém acertadamente a HBO, distribuidora do longa, atrasou sua estreia para o começo de 2020, em uma época de pouquíssimos lançamentos e cinemas fechados, por causa da pandemia. Isso porque o longa dificilmente teria algum sucesso em premiações, mas conseguiu visibilidade sendo lançado direto para a TV.

O longa abre com um plano-sequência que acompanha o protagonista Frank Tassone (Hugh Jackman) que vai desde o seu momento mais íntimo (preparação e insegurança ao ficar sozinho em um banheiro) até o instante em que ele é apresentado como uma grande celebridade local por seu desempenho frente aos projetos e à administração de escolas públicas da região (ovacionado por uma grande plateia).

É inevitável que já nessa cena o público simpatize com personagem. Então, mesmo quando ele começa a ser desconstruído e as verdades vêm à tona, continuamos por muito tempo hipnotizados por Frank. Muito disso passa também pela boa atuação de Jackman, que constrói um protagonista carismático, bondoso e preocupado. A gente sente desde o início que a relação dele com os alunos e funcionários é verdadeira, já que lembra ou faz questão de conhecer o nome de todos e dá atenção até para os menores problemas que possam surgir dentro de seu sistema educacional.

E o que aumenta ainda mais nossa simpatia é descobrir que suas práticas realmente foram efetivas para a melhoria da educação local, o que torna ainda mais complexa uma questão que teoricamente deveria ser unilateral. É quando nossa moral como espectador é questionada ao fazermos perguntas como: ele é corrupto, mas será que os alunos não estariam pior sem ele?

ma educacao 2

Desconstrução do protagonista

Dessa forma, o filme estica bastante o primeiro ato, até um pouco mais do que deveria. Entretanto, o charme de Jackman é capaz de nos manter imersos naquele universo, além de haver uma função clara para essa demora de chegar direto ao ponto. Quanto mais a obra nos aproximar desse personagem maior será o impacto quando seus podres começarem a ser revelados.

O mesmo vale para Pam Gluckin (Allison Janney), que além de ter o carisma e o talento habitual de Janney também apresenta uma química muito grande com o personagem de Jackman. Desde a primeira cena juntos, acreditamos na força daquela relação, como se realmente víssemos em um diálogo descontraído os anos de convivência dos dois. Por isso, o primeiro grande impacto do filme vem com a destruição da vida profissional e pessoal da personagem. E, mais uma vez, nossa moral é questionada quando pensamos “ela era corrupta, mas ela não deveria pagar por tudo sozinha”.

Todavia a desconstrução do personagem de Jackman leva um pouco mais de tempo e insistimos em questionar se Frank está tão errado assim. Até características geralmente negativas como vaidade servem aqui para engrandecer o personagem. E, mesmo no terceiro ato, quando temos plena convicção de que o personagem é um canalha, ainda apresentamos sentimos divididos em relação a ele. Isso só demonstra o quão bem escrito ele é.

Investigação

Porém, se tudo que envolve Frank e Pam é muito bem articulado, desde a construção até a desconstrução, o mesmo não pode ser dito das demais linhas narrativas. É bem verdade que algumas não chegam a atrapalhar tanto o longa, como por exemplo as ações dos parentes de Pam que fazem com que o esquema seja desvendado. Contudo o mesmo não pode ser dito da investigação feita por Rachel Bhargava (Geraldine Viswanthan), sem dúvida a maior fragilidade do roteiro.

Muito disso passa pela personagem não ter o mesmo desenvolvimento que Frank. É como se nunca conseguíssemos criar a mesma empatia pela pessoa boa como temos pelo vilão. Logo não conseguimos torcer inteiramente pelo que deveria ser o moralmente o mais aceitável. Apesar de ser uma narrativa secundária que apresenta quase a mesma importância da principal, ela nunca se torna interessante o suficiente para atrair totalmente nossa atenção. Até porque o filme tem dificuldade em tratar o tom administrativo e a narrativa juvenil de amadurecimento como unidade. Em muitos momentos eu sentia como se tivesse assistindo a dois filmes diferentes em um só.

O que segura ainda um pouco do nosso interesse é a boa atuação de Viswanathan, que consegue mostrar a perspicácia e obstinação da personagem e, ao mesmo tempo, trazer uma relação emocional sólida com o seu pai. O grande problema está mesmo na credibilidade da investigação que em muitos momentos soa inverossímil dentro daquele universo.

Mas, apesar de tudo, “Má Educação” é um belo exemplar em um gênero já tão saturado da mesma estrutura. É um filme que sabe como contar uma história e construir personagens e foge do terrível modelo de se narrativas apenas como relatos do que aconteceu. Um filme é um filme, seja ele original ou baseado em fatos reais, e essa obra entende muito bem isso.

Nota: 7.5

Assista ao trailer:

Ficha Técnica:

Título original: Bad Education (Má Educação)
Data de lançamento: 25 de abril de 2020 (1h 50min)
Direção: Cory Finley
Elenco: Hugh Jackman, Allison Janney, Geraldine Viswanathan mais
Gêneros: Drama, Baseado em fatos reais
Nacionalidade: EUA