Apesar de revelações como o Senador Keene ser o comandante da Sétima Kavalaria e o plano de Adrian Veidt ou reviravoltas como a armação para a Angela, a grande força do Episódio 5 de Watchmen está na forma como constrói mais um personagem.
O Homem Espelhado ou Wade já havia mostrado características suficientes nos episódios anteriores para nos deixar intrigados. Apesar de pouco tempo de tela durante os quatro capítulos iniciais, ele trazia uma estranheza digna de comparação com o personagem mais popular desse universo: Rorschach.
Porém, o que descobrimos aqui é que toda essa estranheza parte de um trauma do passado. Que nada mais é do que o maior acontecimento desse universo – a “invasão extraterrestre” que matou três milhões de pessoas.
E é como se o personagem não fosse capaz de superar o trauma. Ou até mais do que isso, é como se ele vivesse dentro daquele dia ainda. Portanto, a escolha da máscara espelhada não é por acaso. Ela serve como uma referência direta ao local em que ele estava no momento do evento. Mas pode se relacionar também com a ideia de não ser identificado por ETs (como o chapéu metálico do filme “Sinais”).
Além disso, o mesmo pode ser dito sobre o local construído em sua casa. O que parecia uma oficina no episódio passado, agora aparece como o lugar em que o personagem dorme. Ou seja, é uma construção para que ele se sinta seguro de um possível ataque alienígena.
Mas tudo isso ganha ainda mais força e veracidade graças a excelente atuação do ótimo Tim Blake Nelson. Ele vende a sua estranheza como se fosse verdade, ao mesmo tempo em que demonstra lá no fundo uma paranoia traumática.
Universo próprio
Outro acerto do episódio é seguir construindo um universo poderoso e particular a partir da simples ideia: O que seria da Terra se um único evento tivesse acontecido diferente?
Isso é uma das principais discussões de Watchmen desde a HQ, como a criação do Doutor Manhattan vai alterar tudo. A partir dele vai surgir essa ideia de Super-Homem real no universo, ele vai alterar o rumo da Guerra do Vietnã e graças a uma sucessão de eventos Veidt vai lançar a lula gigante em Nova Iorque.
E a série vai fazer um trabalho impecável ao mostrar como isso alterou completamente o mundo. Então já tínhamos visto, por exemplo, a escolha de Robert Redford para presidência, uma evolução tecnológica diferente e avanços científicos poderosos.
Mas não é apenas em questões científicas e políticas que tudo mudou. Nesse episódio, vemos como as pessoas têm medo de habitar NY por causa do evento, algo extremamente natural.
Além disso, é como se o evento de 1985 estivesse presente em tudo nesse mundo. Ele é um marco histórico semelhante ao Nazismo para nós, só que ainda mais poderoso para eles graças ao fator extraterrestre.
E o que mais me chamou atenção nesse sentido é um diálogo na lanchonete entre Wade e a garota que ele conhece no grupo de ajuda. Lá ela fala sobre um filme dirigido por Steven Spielberg, no começo da década de 1990, que ganhou vários Oscars, tem uma menina com casaco vermelho que marca o longa e é sobre o evento em Manhattan.
Ou seja, trata-se do “A Lista de Schindler” deste Universo. Porém, a lula impactou tanto que se tornou algo mais marcante que o Nazismo, então ao invés de fazer um filme sobre o Holocausto, Spielberg fez sobre o a lula.
Nota: 10.0
Crítica em vídeo:
Assista abaixo à crítica em vídeo que eu fiz sobre o episódio em meu canal, o 16mm.