De todos os setores afetados pela pandemia, o cinema é sem dúvida uma das áreas que mais sofreram. Por ser um lugar completamente fechado, com lugares próximos e em que o maior lucro dos estabelecimentos é com comidas e bebidas, ou seja, tornando inviável o uso de máscaras 100% do tempo, os cinemas fecharam em quase todo o mundo por volta de abril do ano passado. E em nada adiantou a pressão de Christopher Nolan para o retorno com seu aguardadíssimo (e fraco) “Tenet”. Todo mundo (ou quase todo mundo) sabia dos riscos, inclusive Hollywood, que parou a produção de novas obras.

Percebendo a situação alarmante e os riscos, o cinema quase parou no mundo. Festivais foram cancelados (como aconteceu com o de Cannes) ou feitos online. Filmes independentes ao redor do globo raramente estrearam e sempre em circuito restrito. A Warner insistiu em lançar “Tenet” em agosto e o filme nem sequer pagou seus altos custos nas bilheterias. Foi o golpe que faltava para a maior indústria de cinema do mundo perder seu rumo. A aguardada reabertura, ainda ano passado, foi praticamente pausada, ficando restrita apenas a filmes “menores” ou relançamentos de clássicos.

A partir de então, os grandes estúdios hollywoodianos tomaram decisões diversas. Antes disso, a Paramount já havia cancelado suas estreias de 2020 ou vendido os filmes para streamings (como aconteceu com os indicados ao Oscar “Os 7 de Chicago” e “United States vs Billie Holiday”). A Warner e a Disney passaram a apostar temporariamente em estreias simultâneas nos cinemas e em seus serviços de Streaming. Enquanto a Universal teve como foco o aluguel digital. Além disso, distribuidoras menores, como a excelente A24, também cancelou seus lançamentos. Hollywood e todas as produtoras e distribuidoras do mundo sentiram o golpe.

Depois de um ano estagnado o cinema volta com tudo 2

A retomada do cinema

Depois de mais de um ano de prejuízo constante, finalmente os cinemas conseguem retomar suas plenas atividades nos maiores mercados. Ainda que boa parte dos países europeus e asiáticos ainda não tenham voltado plenamente, os maiores festivais retornam de forma presencial e os principais mercados estadunidenses (Califórnia e Nova York), fechados desde o ano passado, reabriram. Longe de ser só especulação, isso pode ser comprovado com números de bilheteria recentes e com o reposicionamento de vários blockbusters.

Os grandes estúdios já pensavam em adiar os seus principais lançamentos para o final do ano ou 2022, mas a vacinação em massa nos Estados Unidos (o principal mercado para os estúdios hollywoodianos) e a volta a uma vida quase normal deu um grande sopro de otimismo na indústria. Isso foi visto já nas estreias mais recentes. “Um Lugar Silencioso 2”, em menos de duas semanas, arrecadou U$80 milhões, sendo quase 60 milhões apenas na bilheteria doméstica (um terço do valor arrecadado por seu predecessor durante todo o período de exibição nos cinemas). Tal valor já é superior ao seu custo de produção.

Outro exemplo é “Cruella” que, em menos de uma semana, ultrapassou os U$ 40 milhões. Isso é ainda mais impressionante ao levar em consideração que o filme também estreou com o premier access do Disney+. Ou seja, as pessoas tinham a possibilidade de assistir em casa e mesmo assim grande parte preferiu ir aos cinemas. Ambos os filmes renderam bem acima das projeções feitas (que levam em consideração o período de pandemia e os cinemas fechados em muitos países).

Tais valores de bilheteria influenciaram outros estúdios a manter ou antecipar seus lançamentos já para este mês. Filmes aguardados, como “Invocação do Mal 3” e “Um Bairro em Nova York”, ambos da Warner, e “Velozes e Furiosos 9”, da Universal, chegaram aos cinemas de todo mundo já em junho.

Entretanto, é bom deixar claro que essa recuperação muito esperançosa do cinema vale mais para grandes centros com altos números de vacinados e retorno a uma certa normalidade, como Estados Unidos, Inglaterra e China. No Brasil, a situação ainda é crítica e as salas de grande parte das cidades seguem fechadas.