“The United States vs Billie Holiday” conta a história da cantora Billie Holiday e a perseguição sofrida por ela pelo FBI, por causa da música “Strange Fruit”.
O filme estará disponível para aluguel em abril e foi indicado ao Oscar 2021 na categoria de Melhor Atriz.
Uma bagunça
Apenas uma boa premissa não faz um bom filme. Apenas uma boa história não faz um bom filme. Apenas ser baseado em fatos reais não garante um bom filme. Tratar de um tema importante não é sinônimo de um bom filme. É preciso ter tudo isso em mente ao assistir “The United States vs Billie Holiday”, já que essas falácias têm dominado a forma como o público vê filmes há décadas, sobretudo quando se trata de cinebiografias, um dos gêneros menos inventivos e mais repetitivos da história do cinema. Arriscar-me-ia a dizer que é o estilo de obra cinematográfica com a estrutura mais seguida e previsível.
Então chegamos a “The United States vs Billie Holiday”, filme que conta a história da perseguição do FBI à cantora Billie Holiday, pois viam a sua canção “Strange Fruit” como perigosa, porque “incitaria” os negros por mais direitos. Para isso, eles usam o fato de Billie ser dependente química para prendê-la e tentar manchar o seu nome. De certa forma, o filme conversa muito sobre a realidade apresentada em “Judy”, outra terrível cinebiografia que cumpriu a cota de “filmes genéricos sobre figuras importantes” no Oscar do ano passado. Isso porque tanto Judy Garland quanto Billie tinham problemas com drogas, mas apenas a segunda foi punida por isso, tratada como marginal, enquanto a primeira tinha o caso pouco divulgado por ser uma estrela intocável de Hollywood, o que reforça ainda mais o racismo da época (que permanece até hoje).
Dado o contexto da história real, o longa de 2021 já nasce com aquela aura de um grande filme, por tratar uma temática seríssima como o racismo e trabalhar uma perseguição política real a uma figura importante da música. Além disso, a premissa de uma canção tendo uma força tão grande a ponto de ser uma “ameaça” ao estado é para lá de interessante.
O problema é que “The United States vs Billie Holiday” não consegue nem se sustentar pela premissa, já que o filme não faz ideia da história que quer contar. É, com certeza, a obra mais sem foco dessa temporada de premiações. Várias subtramas são abertas (o policial negro que se apaixona por Billie, a dependência química da cantora, os problemas com o marido, a perseguição do FBI, a entrevista com um apresentador racista e por aí vai) e a grande maioria nem sequer são fechadas. Dá impressão de que o filme tem uma lista de eventos a ser seguidos para apresentar todo um período da vida da artista. Com isso, vários saltos temporais são utilizados para mudar completamente a linha que o filme seguia, criando interrupções atrás de interrupções e uma bagunça narrativa que só comprova a falta de um foco definido na obra. É um filme que quer falar muita coisa, mas enfraquece sua mensagem por isso.
A única coisa que salva é mesmo a grande atuação de Andra Day, o que é comum em filmes desse gênero, visto que todo o longa é feito para ela, com a câmera a procurando a todo instante. Mesmo assim, Andra consegue entregar bem as variações da personagem, além de se destacar nas apresentações musicais.
Nota: 4.5
Assista ao trailer:
Ficha Técnica:
Título original: The United States vs Billie Holiday
Data de lançamento: Abril de 2021 (via aluguel)
Direção: Lee Daniels
Elenco: Andra Day, Trevante Rhodes
Gêneros: Drama, biografia
Nacionalidade: EUA