Jojo Rabbit é um garoto alemão solitário que descobre que sua mãe está escondendo uma garota judia no sótão. Então, ajudado apenas por seu amigo imaginário, Adolf Hitler, Jojo deve enfrentar seu nacionalismo cego enquanto a Segunda Guerra Mundial prossegue.

Transição de gêneros

Taika Waititi (Thor: Ragnarok) consegue dois feitos muito complicados em “Jojo Rabbit”, o primeiro é criar uma sátira para um tema sério como o nazismo, que acerta ao exagerar no humor como uma forma de mostrar o quão absurdo e ridículo era aquele discurso ultranacionalista. O segundo é conseguir transitar entre tons com naturalidade, algo que ele já havia feito muito bem em “A Incrível Aventura de Rick Baker”.

Dessa forma, ele consegue criar todo um universo particular, em que tudo está distante da realidade, de uma forma que lembra até um pouco Wes Anderson, mas sem a mesma preocupação formal e estética. Então, a paleta é saturada, as atuações e situações são exageradas e os figurinos beiram o ridículo. Entretanto, tudo isso é controlado e forma uma unidade proposta por Taika.

Porém, é dentro deste absurdo em que o filme apresenta sobre o que ele realmente é. Trata-se de uma bela amizade de dois jovens obrigados a perder a infância e amadurecer antes da hora em um ambiente terrível como foi a Segunda Guerra Mundial. Então, Taika aproveita todo o contexto para explorar as diferenças, o discurso de ódio (na maioria das vezes inventado por um líder de estado autoritário) e a falta de alguém para compartilhar os dramas e viver os bons momentos da vida.

jojo rabbit 1

Portanto, a sátira vira apenas um pano de fundo para na verdade falar sobre amizade. Além disso, o diretor sabe o momento certo de tornar o filme mais dramático, ainda que sem perder totalmente o humor no texto e nas situações. Destaque para a cena dos sapatos e o momento da Gestapo.

Atuações

Todavia não é apenas na originalidade do roteiro e na construção de mundo que Taika se sobressai. Poucos tem tanta facilidade com o trabalho de atores quanto ele e isso fica mais aparente quando relacionado às crianças tomando protagonismo. Roman Griffin Davis domina a tela de forma impressionante para alguém de sua idade. Ele nos faz acreditar que é uma criança radicalmente nazista, mas aos poucos começa a revelar as dúvidas do personagem quanto a sua própria identidade.

Thomasin McKenzie traz uma segurança muito grande para uma personagem que se porta como adulta apesar da pouca idade. Entretanto, na relação com o Jojo Rabbit percebemos o lado mais juvenil dela. Destaque também no elenco mais jovem para Archie Yates, que consegue roubar a cena sempre que aparece.

Entre os adultos, o destaque é Scarlett Johansson, que com pouco material traz o lado mais humano do longa e sua relação com o filho é uma das mais bonitas que eu vi no ano. O carisma de Scarlett já é conhecido e aqui se torna importante no apego que criamos por ela, algo que vai ser fundamental para a principal virada da trama funcionar. Não à toa, ela tem uma das seis indicações do longa ao Oscar, sendo a categoria de Roteiro Adaptado a que filme tem mais chance.

Nota: 8.0

Crítica em vídeo:

Assista abaixo à crítica em vídeo que eu fiz sobre o longa em meu canal, o 16mm.

Assista ao trailer:

Ficha Técnica:

Título original: Jojo Rabbit (Jojo Rabbit)
Data de lançamento: 06 de fevereiro de 2019 (1h 49min)
Direção: Taika Waititi
Elenco: Roman Griffin Davis, Thomasin McKenzie, Scarlett Johansson mais
Gêneros: Sátira, drama
Nacionalidade: EUA